Ucrânia, em língua eslava significa fronteira da Rússia. Aquando da anexação da Crimeia por parte da federação russa, esta também invadiu parte do território ucraniano, que era maioritariamente povoado por pessoas de origem russa, muito embora até á data ninguém tenha, no Ocidente, querido ver e admitir esse facto.
A Ucrânia está efetivamente dividida em duas partes, leste-oeste, sendo a parte oeste pró-ocidental e, a parte leste pró-russa, e há conflitos fronteiriços amiúdes vezes desde a invasão do território ucraniano pelos russos, ou seja, vive-se na Ucrânia uma guerra-civil.
A parte pró-ocidental da Ucrânia está há vários anos representada no QG da NATO, em Bruxelas, como um país parceiro da NATO, um PfP, um parceiro da “Partnership for Peace”, uma espécie de limbo onde estão vários países do Cáucaso à espera de entrar na NATO. Neste âmbito vários oficiais ucranianos serviram sob meu comando no Iraque, onde integravam o contingente da NATO no país, como membros da PfP.
Não tendo havido nenhuma alteração do estatuto da Ucrânia na NATO, nem se prevê que venha a acontecer, parece-me extemporânea a tomada de posição da federação russa, e de Putin em particular, em querer garantias que Biden, não apoiará a entrada da parte ocidental da Ucrânia na NATO, com o estatuto de aliado, sem as quais não retira o seu efetivo militar das fronteiras ucranianas, de cerca de 100 000 soldados.
Este incidente quer provar ao mundo que a Rússia já voltou ao antigo estatuto de super-potência, quando atualmente não passa duma potência, pois em termos económicos o seu PIB é semelhante ao da Holanda, a crescer endemicamente só cerca de 2,5% ao ano, e que as suas Forças Armadas equiparam-se às Forças Armadas do Reino Unido, com excepção do seu arsenal nuclear que é muito superior, resquícios da Guerra-fria.
A Rússia tem sido muito hábil na utilização de ameaças híbridas, muito eficazes na atualidade.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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