Opinião

A geopolítica das vacinas

Os Estados produtores das vacinas para fazer face ao Covid 19, têm no presente momento um enorme poder e capacidade de o exercer, sobre outros Estados, constituindo as vacinas mais um meio privilegiado de afirmação do seu “Soft Power”, no âmbito das Relações Internacionais.

Neste domínio de afirmação de “Soft Power”, a China e a Rússia desenvolveram e produziram em massa duas vacinas distintas contra a Covid 19, nomeadamente, a “Sputnick” e a “Cinovac” , vacinas que sendo propriedade de empresas estatais ou por ele controladas, lhes dão como estados um grande poder nas relações com outros.

Os dois Estados citados, já estão a distribuir as suas vacinas a alguns países da sua área de influência, já demonstraram ter capacidades para a produzir em massa e capacidade de as exportar para outros estados que o solicitarem.

Dado que os Estados se movem por interesses, prevejo que a distribuição das suas vacinas será feita, preferencialmente, de acordo com os seus interesses definidos na sua estratégia geral e nas suas diversas estratégias parcelares, muito em especial as económicas, financeiras e comerciais.

A título de exemplo a China poderá, a troco da vacina, concretizar mais facilmente, a construção do eixo rodoviário na rota da seda, o acesso aos portos na Ásia, em África e na Europa, bem como a implementação da sua tecnologia 5G, conforme definido na sua estratégia, e a Rússia, por sua vez, poderá conseguir fazer com que cessem ou diminuam as sanções que, a UE e os EUA, lhes impuseram, desde que esta invadiu a Crimeia e parte da
Ucrânia.

Para além dos dois países citados, pudemos já constatar na Europa que, a relação entre a Comissão Europeia da UE e o Reino Unido, por causa da vacina Astra Zeneca, neste último estado desenvolvida, maioritariamente produzida e distribuída foi e está a ser motivo de grande tensão, entre a UE e o Reino Unido, tendo aparentemente o Reino Unido ganho esta
contenda, afirmando internamente a sua autoridade e soberania.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva