Geral Opinião

A doutrina Russa da guerra híbrida

Fonte: Euronews

Hoje li um artigo interessante sobre a doutrina da guerra híbrida da Rússia, desenvolvida pelo General Gerasimov, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas Russas, que começa por afirmar que a célebre frase de Clausewitz, de que a “guerra é a continuação da política por outros meios”, pela que a política é a guerra travada por outros meios, ou seja, considera que a guerra híbrida entre os dois blocos é  atualmente o novo normal, algo que a meu ver não é nada de novo, pois esta situação era a que se passava durante os tempos da guerra-fria, embora com uma nova roupagem doutrinária.

Do artigo realço que para além dos princípios doutrinários da guerra híbrida e da definição desse tipo de guerra, que não é muito diferente na sua essência do da NATO, e define oito fases dessa mesma guerra híbrida sendo cinco delas não cinéticas e três cinéticas.

Vou traduzir de forma livre no próximo parágrafo os princípios da guerra híbrida definidos por Gerasimov, que vou tentar, por me parecerem importantes para se perceber o conflito ucraniano, inclusive a tentativa de mistificar a autoria do atentado do ISIS em Moscovo atribuindo a culpa à Ucrânia.

Os princípios da guerra híbrida são os seguintes: corromper os políticos locais e as elites intelectuais, como forma de enfraquecer o estado opositor; promover a formação duma zona cinzenta entre a paz e a guerra, negar, sempre que possível, que este esteja a desenrolar uma guerra híbrida; usar sempre os vários e diferentes níveis de dissuasão existentes; aplicar em segredo todas as espécies de ameaças híbridas; usar de uma forma holística todas as formas de guerra híbrida em todo o território, incluindo o espaço e o ciberespaço; efetuar antecipadamente uma reflexão que defina uma estratégia concertada de aplicação da guerra híbrida, por forma a priorizar toda a panóplia de operações psicológicas, por forma a acelerar o colapso do estado; e finamente utilizar e disponibilizar toda a tecnologia disponível para efetuar uma guerra híbrida eficiente.

Em conclusão, Gerasimov vinca o facto de que estes princípios deverão ter sempre como objetivo vitimizar a Rússia, para que esta possa justificar uma intervenção militar não por vontade própria mas por ter sido obrigada a reagir, em sua autodefesa.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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