Geral Opinião

A despedida

“João, não vás ao cais despedir-te do teu filho Nuno António, tu choras e é uma vergonha”, dizia a minha avó Helena para o avô João, em casa antes da despedida de meu pai, que com a família regressava ao Continente, onde tinha cursado Direito e se tinha casado, no navio Carvalho Araújo, por ter sido chamado pela segunda vez, para cumprir o serviço militar, no início da guerra em 1961, e que pelo Continente ficou.

Sempre ouvi esta história  em minha casa, vezes sem conta, e quando resolvi constituir família fi-lo perto de Lisboa, e não no Algarve, minha terra de coração, pois poderia ter os filhos a estudar em casa, e tinha esperança que estes ficassem a viver em Lisboa, a grande cidade que atraiu a minha geração, não precisando por isso de me despedir deles em nenhum porto, como fizeram meus avós paternos, e mais tarde meus pais.

Tremendo engano esse de pensar que a grande cidade que foi Lisboa para a minha geração, continuava a ser grande, para a geração seguinte. Para essa nova geração, a mais bem formada de sempre, a Europa é casa comum, e Bruxelas a capital, que os atrai, como a mim me atraiu Lisboa.

Três gerações depois também hoje fui ao cais, à semelhança de meu avô, e tal como dizia a minha avó Helena quando meu pai saiu de vez  para o Continente, agora só me resta rezar.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva