A quando da inauguração do Parque Intermodal da Ericeira, por motivos familiares, não me foi possível estar presente no evento. Ao ver as reportagens, nas diversas imagens disponibilizadas na imprensa, um elemento centraliza a minha atenção, aquela imponente pala em forma de prancha de surf.
A curiosidade desperta e inicio a pesquisa em busca do autor. O meu interesse não é o projeto, desse já se falou. O que procuro não é o arquiteto, é o artista e a sua obra.
Encontrámos o José Pina, marcamos um encontro para descobrir quem é a pessoa, o que faz, o que já fez e as suas ideias. No final concluímos, que tem um contributo, um portfólio imenso de projetos no concelho de Mafra.
O José Pina é um santomense com 55 anos, aluno brilhante no seu país, completa o ensino secundário em São Tomé e com o apoio da bolsa que conquista com o seu mérito, ruma a Lisboa, onde inicia os seu contacto com a arquitetura na escola António Arroio, aos 19 anos.
O José Pina é um santomense com 55 anos, aluno brilhante no seu país, completa o ensino secundário em São Tomé e com o apoio da bolsa que conquista com o seu mérito, ruma a Lisboa, onde inicia os seu contacto com a arquitetura na escola António Arroio, aos 19 anos.
Em 94, inicia a sua ligação com Mafra ao ser convidado pela CMM para integrar a equipa que traçou o plano urbanístico da Ericeira, no tempo do presidente Ministro dos Santos.
É autor de diversos projectos entre os quais, o próprio edifício da câmara. Participa em diversas reabilitações de escolas da Ericeira e Malveira, jardins de infância e tantas outras obras com a sua assinatura.
Considera a arquitetura uma paixão, paixão essa que procura transmitir em todas as suas obras.
Sabia que o pavilhão gimnodesportivo do parque desportivo de Mafra é da sua autoria? Na altura, integrando uma fase no estilo pós-moderno, é criticado pela ousadia nas cores usadas, ousadia essa que veio quebrar o estilo habitual da época em edifícios públicos.
A série “Intermodal” inicia com com o parque de Mafra, já viu a pala deste parque? Muita gente passa diariamente no local e provavelmente não reparou que é uma onda estilizada. Segundo José Pina, esta ideia nasce porque do local consegue-se ver o mar da Ericeira.
Passando ao que nos trouxe a este artigo, José Pina conta-nos um pouco da história do Intermodal da Ericeira.
“A ideia inicial era o surf, antes de chegar a ideia final, fiz diversos esboços. Muitos dos meus colegas de profissão andam sempre com uma máquina fotográfica, eu prefiro o meu pequeno caderno onde vou desenhando e coleccionando ideias e momentos”
Foi fácil chegar a ideia final?
“Não, antes pelo contrário, passei até, como muitos outros artistas nas diversas áreas de expressão, por uma fase de angústia. Esta obra tinha que ser o apogeu desta fase. Tinha já uma série de esboços, mas faltava qualquer coisa.
Normalmente na minha hora de almoço, descanso um pouco no meu carro antes de regressar ao trabalho. Um desses dias vejo um colega meu chegar com duas pranchas de surf que me despertaram a atenção. Fui ter com ele e falámos sobre as pranchas, os diversos tipos existentes em função do nível do surfista e outros factores. Foi o elemento que me faltava.”
O leitor, se passou no local, por certo reparou na imponente prancha, uma verdadeira obra de arte que está sustentada apenas por três pilares. Facilmente se consegue imaginar a prancha a pairar no ar. Mas reparou no edifico principal? É um barco, mais um elemento do mar a completar a ideia do artista.
Qual foi a maior desafio na concretização desta obra?
“O maior desafio, devido à sua dimensão foi a sustentabilidade. Tínhamos que considerar a ação do vento”
Um temporal pode colocar em perigo essa mesma sustentabilidade?
“Não, a resistência ao vento não é um problema, a forma e os materiais usados na estrutura permitem a difusão do vento praticamente sem resistência.”
Já no final da nossa conversa, descobrimos também que fruto da união com a sua companheira de vida, José tem um filho que é igualmente arquitecto e que o seu pai, em São Tomé sempre esteve ligado a projectos de construção. Quem sabe, uma questão de ADN.
O José Pina completa a sua caracterização com ligações à pintura e à escultura, áreas onde chegou a expor na sua terra natal.
Pratica desporto, joga futebol há 30 anos com um grupo de conterrâneos, “quer faça sol, quer faça chuva”. Só mesmo a pandemia conseguiu interromper esta outra paixão do artista.
Factor curioso, com ligação fortíssima que tem com o concelho de Mafra, vive no entanto em Lisboa, na zona de Benfica.
Para fechar perguntámos a José Pina se queria deixar uma mensagem às gentes da Ericeira.
“Os Ericeirenses e população do concelho de Mafra em geral, podem sempre contar com a CMM e com o José Pina para, na medida do possível, tornar sempre melhor e agradável o nosso concelho”.
Texto: Carlos Sousa
Fotos: KPhoto
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