Geral Opinião

O Paradoxo da visita de Putin à Mongólia

Foto: RFI

A Mongólia é um país que na década de noventa do século passado, que com o fim da URSS, fez uma transição dum regime comunista, totalitarista e com uma economia estatal, para um país semipresidencialista, democrático, multipartidário e onde existe uma separação efetiva de poderes, ou seja, o poder judicial é independente do legislativo e do executivo.

A Mongólia tem eleições de seis em seis anos para a Presidência, e de quatro em quatro anos, para a Assembleia Legislativa, que só tem uma Câmara, ou seja, é um sistema muito semelhante ao Português.

A Constituiçāo de 1992, respeita o Direito Internacional, é humanista, respeita a carta dos direitos humanos da ONU, e toda a legislação tem como modelo o direito romano e germânico, havendo várias ONG’s no terreno.

Nesta sua transformaçāo política e económica para uma democracia liberal, e com uma economia de mercado, o país aderiu voluntariamente ao Tribunal Penal Internacional, tendo este ano inclusive nomeado um dos seus juízes.

É portanto com alguma estupefação que a maioria dos analistas políticos estão a acompanhar a visita de Putin ao país a convite do estado Mongol, pois sendo um país democrático, onde há separação efetiva de poderes e signatário do TPI, deveria executar o mandato deste e prender Putin, quando este aterrasse no seu território.

A posição geográfica do país entalado entre a Rússia e a China, e a sua dependência total do petróleo russo, podem ajudar a explicar este paradoxo, esta incoerência, ou seja, os interesses do país, mais uma vez a sobrepõem-se ao ordenamento jurídico internacional e mais grave ao ordenamento jurídico nacional, com a anuência do poder judicial.

Espero sinceramente que nesta visita de Putin não seja assinado o acordo pendente, que permita que pelo país seja construído e passe o planeado gasoduto trans-siberiano que liga a Rússia à China, projeto que não tem merecido, até agora,  a concordância do país, no entanto é difícil que tal não aconteça num país completamente dependente energeticamente da Rússia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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