Com o CoronaVirus a morte está sempre presente para os idosos…e não só.
Poucos , e cada dia menos são, todos aqueles que iam à Missa de corpo presente, velórios e a funerais. Cada vez mais reduzido está, o numero de jovens e até nos de mais idade, que marcam presença nestas solenidades. Agora suspensas e não permitidas.
Até a agência funerária tem dificuldades em conseguir pessoal só para chaufeur e ajudante para as cerimónias fúnebres. Ninguém quer ser “gato pingado”.
Isto representa a atitude de “chega para lá” para essa cena do morto.
Tal seja familiar, amigo ou desconhecido. Passa-nos cada dia mais ao lado.
Mas morrer é desaparecer, não mais estar junto de nós. E dói a quem mais vive de perto esse desaparecimento, sendo jovem ou idoso.
“Desaparecer” é uma maneira que surge aqui para substituir de forma mais simpática a palavra morrer.
Morrer é lixado. Não para quem morre, mas para quem cá fica – O não ter tido aquela conversa sistematicamente adiada…o não ter dito nada…e desaparecer assim…sem uma despedida formal ou uma conversa final. Dói.
E dói no mais íntimo do ser. Todos morremos, mas a ignorância de quando isso acontecerá faz-nos progredir na marcha do tempo, sem parar, e sem preocupação do ir acontecer, agora, daqui a pouco, ou mais logo.
É inevitável morrer. Mas poucos ligam, a menos que se esteja doente. Vai-se acompanhando… E mesmo que a pouco e pouco possa vir a falecer. A coisa é diferente.
No velório a parte mais emotiva entre os mais jovens presentes é contar anedotas, assim em tom baixinho e a sorrir disfarçadamente. O morto lá está presente, tapado para não gozar com aquela malta, que ali está exclusivamente para marcar presença, mas apenas para com os vivos.
Só os mais íntimos sofrem o desaparecimento do defunto.
Não é saudade, é o nunca mais ouvir, falar, discutir, contrariar, concordar, abraçar e dar carinho…
O desaparecimento, assim, a frio…transformado em fotografia, numa moldura sobre um qualquer armário do Ikea num canto da sala é de facto a homenagem última de quem passou por aqui.
Mereceu? Mão mereceu? Só o tempo o dirá.
Olhe …Que descanse em paz. E espere muito tempo por nós.
Isto digo eu, não sei.
Helder Martins
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