Crónica semanal de Nuno Pereira da Silva
Em São Tomé cidade capital, todas as tardes no bar do Hotel conhecido por passante, frente ao mar, bebericávamos uma cerveja e apreciávamos o calmo e quente mar, como só o consegue ser no Equador.
Muitas vezes nessas ocasiões de lazer, levantavam-se subitamente e sem aparente explicação ventos ciclónicos, que nos obrigavam a refugiar dentro do Hotel, e que tal como apareciam, desapareciam, como um ai que se lhes dava, deixando as váriasfrágeis lacustres casas de madeira,que a maioria da população da cidade-capital e do território habita, destelhadas, pois os seus telhados de chapas de zinco compostos, fragilmente pregadas com ferrugentos pregos em podres tábuas de madeira , que o tempo e a humidade tropical vão leve-leve (devagarinho) corroendo, muitas das vezes não suportavam a fúria das rajadas ciclónicas das tropicais tempestades.
As lacustres e paupérrimas casas de madeira apoiavam-se sempre em cima de altos pilares de frágil madeira , estando por isso sempre preparadas, para por baixo delas passarem as enxurradas de água, jorradas em catadupa do céu, como se este de repente fosse sobre elas desabar, e para nos dias calmos servir de abrigo a algumas cabras, porcos e galinhas dos seus donos, que à solta passeiam pelas estradas e algumas praias da cidade e suas redondezas.
Numa das tardes de passante, perto do Natal, deparei-me a comprar artesanato, para oferecer nas festas à família e aos amigos, e a discutir os já de si baixos preços desses produtos , com um dos miúdos dos bandos de miúdos, que normalmente assolavam o bar em busca de ganhar umas dobras para poderem ajudar as pobres famílias no seu sustento.
Nesse particular dia senti-me o avarento da história, “Um conto de natal” de Charles Dickens, ao constatar o ponto a que tinha chegado a minha avareza, ao querer rebaixaros preços já de si baixos do artesanato , uns míseros cêntimos, que me não faziam falta nenhuma , mas que para os miúdos que vendiam diariamente o artesanato local e suas famílias, eram essenciais, pois aos preços locais dariam para os sustentar e à a sua família por uns dias.
Esta perceção que tive, nesse dia, de que uns míseros cêntimos podem fazer a diferença na vida dos outros, calou tão fundo na minha consciência que atualmente, e passados que foram cerca de trinta anos, dedico parte da minha vida a angariar fundos para Instituições e Organizações de solidariedade em Portugal e na África Lusófona, pertencendo inclusive inclusive aos corpos sociais de uma associação, com sede em Mafra, a AFIM, que com cerca de dez mil Euros por ano, consegue manter de pé dez escolas nas cercanias da Ilha de Moçambique, e alimentar cerca de quatrocentas crianças com uma refeição quente por dia.
Quero com estas minhas parcas linhas ajudar os leitores deste jornal a reflectir sobre a importância da solidariedade e da relevância que uma pequena contribuição pode fazer na vida dos outros , por último aproveito para desejar a todos os leitores deste jornal um Santo Natal.
Nuno Pereira da Silva
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