Opinião

A função dos “boys” no Governo

A net permite-nos ver e rever filmes que de outra forma nos passariam ao lado, muito embora sejam de excelente qualidade, ontem tive oportunidade de ver um filme sobre a vida de Florence Foster Jenkins, realizado por Stephen Frears, e interpretado brilhantemente por Hugh Grant e Meryl Streep.

A Florence era uma senhora riquíssima, amante da música clássica que fundou um clube designado por Verdi, e que apesar de cantar extremamente mal, atuou no final da vida no Carnegie Hall, com enorme sucesso.

O filme relata-nos ao pormenor como todos os que rodeavam Florence, desde o marido a todo o seu “staff” , aquiesciam em tudo o que ela dizia, lhe escondiam a verdade, subornavam a imprensa para lhe tecerem boas críticas e não lhe permitiam que contactasse ninguém fora de um círculo muito restrito de pessoas, previamente muito controlado.

Todas as pessoas de quem Florence dependia e gostava, foram beneficiadas financeiramente em vida e no seu testamento, após o seu falecimento.

O filme é relevante e tem bastante atualidade, dado que esta é normalmente a missão atribuída aos “boys” nos gabinetes, em todas as organizações onde haja algum tipo de poder, desde as Forças Armadas, aos Bancos, às Direções Gerais e, sobretudo aos Ministérios, que em vez de assessorarem quem os nomeou, como devia ser a sua função, normalmente sabujam-se, aquiescem em tudo o que o chefe diz, e impedem o chefe de ver a própria realidade, sendo normalmente beneficiados, quer durante o período que exercem as funções de assessoria, quer no futuro, mesmo após a queda do líder.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva