O fotojornalista português Nuno André Ferreira captou uma imagem que mostra, em dois planos, uma criança dentro de um carro, a ao longe as chamas de um incêndio em Oliveira de Frades. Esta imagem valeu-lhe uma nomeação na categoria “Notícias” (Spot News) dos prémios anuais da World Press Photo, os mais importantes prémios internacionais de fotojornalismo.
“Escolhi aquela fotografia, porque há um contraste entre a ternura de uma criança e o incêndio, que é uma coisa tão má. E vemos ali uma criança dentro do carro, que parece que está imune àquilo tudo, porque também ela não percebe o que se passa à volta dela”, explica o fotojornalista, em declarações à Lusa.
A fotografia foi captada ao final de mais um dia de combate às chamas na região de Oliveira de Frades, em Setembro de 2020. Já de noite, com o céu iluminado pelo fogo, uma família recolhia-se no carro enquanto não podia voltar à sua casa.
“Já tinha o meu serviço praticamente feito, mas decidi ficar, porque havia aldeias ameaçadas. E, estando em risco, a gente fica para ver até que ponto aquilo tem alguma gravidade ou não“, recorda o fotojornalista.
“Nós também temos a nossa missão, que é esta: é mostrar, é andar na rua. É quase como ter uma guerra e não ter ninguém a cobri-la, porque ficámos em casa com medo. Podemos ter medo, devemos ter, porque o medo acaba por ser um aliado para nos podermos salvaguardar, mas a nossa missão é esta. É tentar chegar às pessoas que não estão lá, é tentar transmitir alguns sentimentos, é tentar levar as emoções, é mostrar no dia a seguir às pessoas aquilo que tu viste e presenciaste“, resume.
Nuno André Ferreira, de 41 anos. Nasceu em Leiria, estudou Jornalismo em Coimbra e rapidamente decidiu que, mais do que aparecer na televisão ou escrever notícias em jornais, queria mesmo era captar a realidade através da sua máquina fotográfica. Trabalha como fotojornalista desde 2006, a partir de Viseu, onde colabora com vários meios locais e nacionais, incluindo a Agência Lusa.
Worl Press Photo
Para o prémio “Fotografia do Ano” estão nomeados seis trabalhos fotográficos:
- Evelyn Hockstein, sobre a contestação do movimento “Black Lives Matter”, nos Estados Unidos;
- Lorenzo Tugnoli, sobre a explosão que destruiu uma parte de Beirute, no Líbano;
- Luis Tato, sobre uma tempestade de gafanhotos, em África;
- Mads Nissen, que registou a vida num lar no Brasil, em tempo de pandemia;
- Oleg Ponomarev, sobre o processo de transição de um rapaz transgénero, na Rússia;
- Valery Melnikov, sobre o impacto do conflito pelo controlo da região de Nagorno-Karabakh.
Para esta edição, o júri escolheu 45 fotojornalistas e fotógrafos de 28 países, entre 4.300 profissionais que se candidataram com 74 mil fotografias.
Os vencedores das diferentes categorias do WPP – e do grande prémio – serão anunciados a 15 de abril, estando prevista, depois, a havitual exposição anual com as imagens premiadas.
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