O Ericeira WSR+10 encerrou ontem o seu ciclo de conferências com uma Digital Talk dedicada à Sustentabilidade, conceito que constitui o denominador comum deste projeto.
A quinta e última conferência (dum ciclo de cinco, iniciado em Junho) do projeto promovido pelo Ericeira Surf Clube (ESC) para comemorar o 10o aniversário da Reserva Mundial de Surf da Ericeira – RMSE intitulou-se “Por uma Reserva Mundial de Surf da Ericeira + Sustentável”.
Tanto de manhã como na parte da tarde foram partilhados vários exemplos de como é necessário pensar globalmente e agir de forma local, tal como foi relembrado pelo orador “repetente” Carlos Pereira da Silva. Esta conferência focou, sobretudo, as potencialidades do oceano e do Surfing enquanto ferramentas de promoção da Sustentabilidade ambiental, social e económica para operacionalizar e concretizar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do Green Deal Europeu, procurando-se consciencializar os públicos-alvo sobre as várias dimensões que envolvem o conceito da sustentabilidade e gerar reflexão sobre a respetiva aplicação na RMSE, abrindo novos horizontes.
Os quatro painéis, moderados pelos jornalistas Miguel Pedreira e João Valente, apresentaram uma panóplia muito rica de oradores, incluindo, entre outros, uma eurodeputada, biólogos, um surfista profissional que se tornou em forte ativista ambiental, académicos e representantes de empresas e Organizações Não Governamentais.
Logo ao início da manhã, Maria Graça Carvalho (Deputada ao Parlamento Europeu; Vice-Presidente da Comissão de Pescas; Membro titular do Comité de Indústria, Pesquisa e Energia; Membro Titular da Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade de Género e da Comissão Especial de Inteligência Artificial na Era Digital) apresentou o desafio da sustentabilidade numa perspetiva europeia, assim como a sua visão sobre os caminhos a percorrer numa lógica de eficiência coletiva para a resolução dos principais desafios ambientais que a nossa sociedade enfrenta e o contributo do desporto para este objetivo.
Esta embaixadora do projeto Ericeira WSR+10 declarou que “o grande desafio da sustentabilidade passa por desligar o desenvolvimento económico da degradação ambiental”, meta que se encontra no cerne do European Green Deal, nomeadamente com a redução das emissões de CO2, numa transição energética – e de paradigma – que deverá ser realizada com as pessoas e não contra as pessoas, sem deixar ninguém para trás e apostando em energias limpas e acessíveis, com aposta na ciência e nas novas tecnologias, consumindo menos e melhor e reduzindo o impacto das atividades humanas sobre o planeta, de forma a alcançar equilíbrios ambientais e sociais. Maria Graça Carvalho concluiu a sua intervenção referindo que “o surf é uma boa onda para a economia, ambiente e saúde de quem o pratica… e as boas ondas não devem ser desperdiçadas.”
De seguida entraram em cena os quatro painéis, compostos da seguinte forma:
- “O Potencial da Literacia do Oceano” – Raquel Gaspar, Miguel Blanco, Maria Cristina Antunes e Nuno Vasco Rodrigues;
- “Produção e Biodiversidade” – Álvaro Sardinha, Rita Sá, Joana Lia Ferreira, Bárbara Maurício e David Camocho;
- “Surfing: educação, eventos e carga” – Ana Vaz, Ricardo Nogueira Mendes, João Fonseca Ribeiro e Rute Grilo Martins;
- “A Reserva no presente a olhar o futuro” – Juanma Murua, Carlos Pereira da Silva, Joaquim Casado e António Abreu.
Coube a Juanma Murua abrir este derradeiro painel, e o responsável pelo estudo em curso sobre o impacto da RMSE nos últimos 10 anos falou sobre alguns dados e resultados recolhidos neste âmbito no que toca aos níveis ambiental, social, económico e de imagem, dividindo-os em impactos positivos e negativos. Em termos de conclusões, considerou que os principais problemas ambientais relacionados com a prática do surf na Ericeira se encontram aos seguintes níveis:
- Pegada ecológica do transporte provocada por quem se desloca à Ericeira para surfar e a diminuição da biodiversidade, nomeadamente no que toca à quantidade e tamanho dos exemplares das espécies marinhas aqui capturadas;
- Falta de estratégias e regulamentação específica sobre assuntos ambientais para a RMSE (tais como estratégias para a mobilidade ou os resíduos);
- Falta de monitorização dos dados necessários para conhecer adequadamente o impacto da RMSE e fornecer uma gestão adequada e um melhor uso económico e social e com menor impacto ambiental;
- Falta de envolvimento comunitário e desconhecimento do que significa a RMSE, tanto entre a população local como entre os surfistas.
Juanma Murua destacou também, na parte negativa, a falta de força jurídica da RMSE a nível da legislação portuguesa e de conservação ambiental; já em território positivo, encontram-se a qualidade da água do mar e das praias, tendo em conta as zonas balneares galardoadas nos últimos anos.
Tiago Matos (representante da Associação dos Amigos da Baía dos Coxos, entidade que integra o Conselho Restrito do Conselho Municipal da RMSE) e Pedro Bicudo (representante da SOS – Salvem o Surf, outra entidade que integra o CRCM da RMSE) partilharam as perspetivas críticas destas entidades sobre o início e a evolução da Reserva Mundial de Surf da Ericeira e o Presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder Sousa Silva, discursou sobre a mesma RMSE – destacando os aspetos positivos da mesma, que considerou uma realidade em permanente aperfeiçoamento, e focando a necessidade de mobilizar a comunidade para o importante património que ela representa, concluindo que “valeu a pena” o percurso iniciado em 2011 –, antes de Miguel Toscano encerrar a sessão de trabalhos, partilhando que a Comissão Europeia deu a possibilidade de o projeto EWSR+10 terminar até 28 de Fevereiro de 2022, devido à pandemia da Covid-19, período que será aproveitado para o desenvolvimento de novas iniciativas, nomeadamente ao nível das temáticas da inclusão social e da tecnologia. O Diretor da área de Inovação e Redes Colaborativas do Ericeira Surf Clube avançou também que o estudo sobre o impacto da RMSE deverá ser apresentado em
Janeiro do próximo ano.
A Reserva Mundial de Surf da Ericeira é a única existente no continente europeu, integrando uma rede global sob a tutela da Save the Waves Coalition, associação internacional que criou este programa com o objetivo de preservar e promover regiões costeiras com ondas de qualidade ímpar – na Ericeira trata-se duma faixa costeira de 13 quilómetros que inclui sete ondas de características únicas (Pedra Branca, Reef, Ribeira d’Ilhas, Cave, Crazy Left, Coxos e São Lourenço), as respetivas paisagens e ecossistemas.
As entidades Guardiãs da RMSE são a Câmara Municipal de Mafra, o Ericeira Surf Clube, a Associação dos Amigos da Baía dos Coxos e a SOS – Salvem o Surf.
O Ericeira WSR+10 é um evento promovido pelo Ericeira Surf Clube e financiado pela Comissão Europeia, contando com o apoio do Município de Mafra.
Todas as informações relevantes sobre o Ericeira WSR+10 podem ser consultadas online, no site oficial do evento (https://ericeirawsr10.com) e nas respetivas redes sociais.
O Ericeira WSR+10 conta com o apoio da Fonte Viva, Açai Native e Matadouro Beach Bar, bem como a divulgação dos seguintes Media Partners: Antena 1, Fuel TV, Visão, Beachcam, SurfTotal, Vert, SurfZine, Mafra TV, Rádio do Concelho de Mafra, O Carrilhão, AZUL – Ericeira Mag e O Ericeira.
Fonte: Ericeira Surf Clube
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