Trump fez dois anúncios hoje, dia 2 de julho: que tinha conseguido pressionar Israel a iniciar um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, em negociações mediadas pelo Qatar e pelo Egipto, e que ia abandonar o apoio à Ucrânia — sem especificar que apoios, se apenas materiais ou se também incluía o apoio em informações.
Curiosamente, também foi hoje que o Irão determinou a sua saída do Tratado de Não Proliferação Nuclear, tendo proibido a Agência Internacional de Energia Atómica de continuar a monitorizar as suas instalações, por considerar que o seu chefe não foi imparcial, pois nunca condenou o ataque dos EUA a instalações nucleares, como fez em casos idênticos.
Estes três assuntos, na minha opinião, têm uma leitura simples. O primeiro era algo já expectável e vem na sequência da cimeira da NATO, onde Donald Trump, apesar da indecente bajulação à sua pessoa por parte dos seus congéneres que culminou num acordo político draconiano, em que todos os aliados (menos a Espanha) se comprometeram a gastar 5% do seu PIB em Defesa até 2035, não assinou mesmo assim um documento formal declarando a Rússia como ameaça.
Desconfio que antes da cimeira tenha havido uma reunião secreta prévia ao ataque ao Irão, com Putin, no sentido de os EUA deixarem cair a Ucrânia em troca do Médio Oriente, ou seja, de poderem atacar diretamente o Irão e estabelecer os Acordos de Abraão. Uma troca do Médio Oriente pela Ucrânia.
O ataque ao Irão foi uma tentativa desesperada de auxiliar Israel a sair do buraco em que se meteu ao atacar diretamente o Irão, iniciando uma frente que, sozinho, não tinha capacidades logísticas nem financeiras para manter a médio prazo.
Ao ajudar Israel e ao ter conseguido uma trégua na frente com o Irão, os EUA, como contrapartida, obrigaram Israel a iniciar unilateralmente um cessar-fogo de sessenta dias em Gaza. Na sequência desse cessar-fogo, irão obrigar Israel a resolver definitivamente o conflito israelo-palestiniano, o que levará à constituição de dois Estados algo que, a acontecer, abrirá as portas para que os Acordos de Abraão possam finalmente concretizar-se.
A única coisa que neste jogo de xadrez ainda falta Trump conseguir parece ser subjugar o Irão e impedir que este desenvolva o seu arsenal nuclear, assunto que os EUA ainda terão de resolver diplomaticamente.
Em conclusão, a Europa e o Canadá terão de, sozinhos, auxiliar a Ucrânia a não perder completamente a sua independência — algo que Macron já percebeu, tendo hoje encetado conversações com Putin. A França é o único Estado membro da UE com arsenal nuclear, bem como o Reino Unido, geograficamente na Europa, mas fora da UE.
A dissuasão nuclear europeia está nas mãos desses dois Estados, que terão de a garantir a todos os países europeus algo de que Putin não poderá duvidar.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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