Entrevista ao General Ramalho Eanes no dia 1 de Abril de 2020
Vi e revi a entrevista do General Ramalho Eanes à RTP 1, e antes de a começar a analisar, deixei amadurecer as ideias, pois a entrevista foi de uma grande profundidade, vinda de um homem que tem, nos últimos anos, passado muito tempo a pensar e a refletir, tendo-se doutorado na Universidade de Navarra.
As ideias que explanou, são de um grande humanismo cristão, de quem está pronto a morrer pelo seu próximo, à imagem de Cristo, que morreu pela humanidade. O dar a vida, o bem mais supremo é algo que só alguém muito altruísta pode doar ao próximo, algo que dito numa televisão nacional com uma imensa simplicidade, me emocionou, tal como ele próprio se emocionou, não o conseguindo esconder, pois a voz embargou-se-lhe, quando referiu que se viesse a necessitar de ventilação, como consequência do Covid-19, e que se alguém com compromissos familiares também precisasse, ele como mais idoso, não hesitaria em o ceder.
Está doação da vida é também um apanágio dos militares, que juram doar a vida, se preciso fôr para defender a sua pátria, a comunidade a que pertencem. Como dizia Raymond Aron, a grande nobreza da profissão militar e o que a distingue de todas as outras, é exatamente esta
disponibilidade em sacrificar a vida se necessário for pelo bem comum.
Ver um velho General afirmar que cederá voluntariamente um ventilador a quem mais precisasse dele, lembrou-me o lema da nossa Escola que nos formou, a, Academia Militar, e que faz parte indelével de todos nós militares do QP, ” Dulce et decorum est pro Patria mori”, ou seja é doce e honroso morrer pela Pátria.
O General falou ainda do amor, como sendo algo fundamental e o mais importante nas relações sociais, afirmando que ficar em casa, sem ver os seus netos, era um ato de amor pelos outros, pela sociedade, e que era obrigatório fazê-lo, para que a onda do Tsunami, se dívida em várias vagas, acomodáveis pelo Serviço nacional de Saúde, malgrado o confinamento seja
algo anti-social para a espécie humana.
Ao falar de espiritualidade referiu que, embora as igrejas estejam fechadas ao culto, a espiritualidade é algo íntrinseco ao homem, e que o homem é um ser espiritual, é que é através do amor aos outros que se materializa a espitualidade, como referiu Cristo nos evangelhos.
Em termos de política e estratégia explicou que o estado mínimo, o estado neo liberal, não responde aos desafios estratégicos dum estado quando este é necessário, contrapondo à ideia do estado mínimo a do estado necessário, um pouco como as Forças Armadas que existem e têm que estar preparadas para quando são necessárias, embora seja desejável que o não sejam.
Estas foram em minha opinião as ideias chave duma das personagens mais incontornáveis da Democracia Portuguesa, a quem todos tanto devemos.
Bem haja meu General.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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