Nos próximos dias 6 e 7 de Maio vamos poder voltar assistir ao trabalho de José Fonseca e do grupo de teatro Artinstage. Vão estar a apresentar a peça “Uma família com pinta” na C.C. Jaime Lobo e Silva.
Fomos ter com o grupo para assistir a um dos ensaios no Polo Cultural Gaivotas em Lisboa, um centro de apoio para a criação artística, espaço que para além de salas de ensaio conta ainda com alojamento para apoio a artistas deslocados.
Estivemos à conversa com Beto Fonseca e aqui transcrevemos a entrevista que nos concedeu.
A última vez que estivemos juntos foi quando o Artinstage levou ao palco da Ericeira a peça “des LIGADOS”, o que aconteceu desde então?
Bom, desde o nosso último espetáculo “des LIGADOS”, ficámos numa expectativa muito grande porque tínhamos agendamentos feitos desde o ano 2019. Mantivemo-nos muito focados e determinados nas datas que se avizinhavam. Mantivemos os ensaios “online“, pois não tínhamos a certeza de não ir haver espetáculo. A incerteza e a incógnita era o que dominava os nossos dias e preenchia os nossos pensamentos.
Como correu mais esta fase negra para os artistas, com o novo confinamento?
Os artistas são pessoas, cidadãos comuns e como tal não podemos e não conseguimos desligar o lado emocional. Talvez tenha sido uma das piores fases de todo este confinamento que vivemos à sensivelmente um ano. Em termos emocionais foi bastante devastador, familiares que foram “apanhados” pelo vírus, a impossibilidade de estar com a família, que foi e é o grande pilar desta “tragédia”, os constantes testes, isolamentos profiláticos a cada momento. Como artista foi muito difícil de assimilar e ultrapassar.
Soube de algumas iniciativas em que apresentaram peças via canais online, qual é o sentimento de fazer teatro sem público?
Sim, fizemos alguns trabalhos online, não sei se nos podemos considerar privilegiados, se é que houve privilegiados neste contexto, mas acreditaram no nosso trabalho e fizemos 3 espetáculos online em parceria com a C.M.Mafra e o Mural 18. Um ator precisa da dinâmica do público, do calor, da energia que emana da plateia. Posso dizer que foi super estranho estar em palco sem público, estar a olhar para uma câmara. Tive o cuidado de todos os trabalhos que selecionei, serem na vertente de comédia, para levar uma gargalhada e sorrisos a todos os lares que nos viam.
Quando vimos “des LIGADOS”, vimos uma peça com dois atores em palco, poucos adereços, uma carga emocional enorme e uma história intensa com um final imprevisível. O que vamos ver agora com “Uma família com pinta”?
O “des Ligados” foi uma peça que escrevi neste último confinamento, sempre quis fazer uma “tragicomédia“, acabou por me levar para este contexto com uma carga emocional muito forte. Vai ser um trabalho que dificilmente irei esquecer em que tive o privilégio de partilhar e trabalhar com Fábio Ramos
“Uma Família com pinta” vem romper com este último trabalho, uma família disfuncional, um pai que gosta do jogo, uma filha que vive num mundo à parte, a mãe que talvez seja a única com os pés bem assentes na terra. Depois vamos ter mais dois personagens, um camponês que vem à cidade na procura de aventuras e quem sabe do amor perdido. Penso estarem reunidos todos os elementos para ser uma peça bem divertida.
Fala-nos um pouco dos outros atores deste elenco.
Temos o Gabriel Silva, um jovem que está a fazer o seu licenciamento na ESTC, conhecido há dois anos e só posso dizer que temos futuro. A Matilde Anjos outra jovem atriz, que respira e vive o teatro, a emoção de cada palavra e movimento que faz em palco, licenciada em teatro na Escola na escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, uma jovem atriz mas já com um currículo bem completo e de trabalhos feitos. Depois temos a Susana Rodrigues, que atriz fantástica, não hesitei quando falei com ela para desempenhar esta mãe. Uma atriz que respira palco, com tantos outros trabalhos na sua vida artística.
Tenho orgulho neste elenco.
Qual é o vosso sentimento, enquanto atores, neste novo período que se espera que seja uma “retoma da vida”?
Já o disse e volto a confirmar, recusei baixar os braços, tivemos mais de 18 espetáculos cancelados, 12 adiamentos. Só quero olhar em frente porque o presente ainda nos continua a pregar partidas e a massacrar, não sabemos com o que podemos contar hoje, não conseguimos ter uma agenda, de repente tudo se altera, não consegues fazer planos. A frase “O passado já lá vai, o presente é agora, o futuro é incerto…” parece que teve um reajustamento. Vamos continuar a lutar, a ser positivos como o temos sido até agora.
Queres deixar uma mensagem ao público da Ericeira em particular e às pessoas em geral sobre este momento da retoma da cultura?
A cultura é segura, ir ao teatro é seguro. Aquilo que peço é que voltem a acreditar na cultura, ajudem a cultura a reerguer-se. Com um gesto muito simples, uma ida ao teatro, ao cinema, um concerto, estão a ajudar milhares de profissionais do espetáculo, não é só o ator que pisa o palco, estão a dar força a uma classe de pessoas que precisam do público, pois um espetáculo sem público não tem essência. Digo que chorem, riam, emocionem-se, sintam a cultura!
Soubemos que as duas sessões agendadas para as 20h30, de 6 e 7 de Maio, estão praticamente esgotadas mas ainda pode tentar garantir o seu ingresso em https://forms.gle/agAKW8Xgj4RABpfk6ou artinstage.teatro@gmail.com | 964246910
Pelo que assistimos no ensaio, quem garantir o ingresso vai por certo ter um serão diferente e bem passado.
Sejam bem-vindos à cultura.
Texto e fotografias de Carlos Sousa/ KPhoto
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