Desconsigo perceber, como dizem os nossos irmãos angolanos, a razão pela qual o Partido Democrata dos EUA, apoia, pelo menos até ao momento em que escrevo esta crónica, a recandidatura do Presidente Biden para mais um mandato à frente dos destinos do país.
Biden já ganhou a Trump uma vez, mas ganhou não por ter um enorme carisma, ganhou só porque não era o Trump, e porque Trump tinha exercido uma Presidência muito ao seu estilo, populista, divisionista do país, muito espalhafatosa, enfim um Presidente ultraconservador que é responsável em grande parte pela expansão desse conservadorismo ultrarradical que se espalhou na Europa, com Steve Banon seu assessor como ideólogo.
Com Trump, a política deixou de ser um assunto sério, solene, de indivíduos com algum sentido de estado, com uma retórica que embora pudesse ser agressiva não passava os limites da decência, para tudo nas suas narrativas passar a ser permitido sem qualquer pudor, desde a divulgação de notícias falsas difundidas nas redes sociais, de que usou e abusou, do uso da difamação do adversário.
Enfim, durante o seu mandato aconteceram vários episódios, que em minha opinião, foram muito graves, e que levaram os EUA, o farol da democracia liberal do mundo, a assumir uma postura mais perto dum caudilhismo autocrático, que agrada a uma massa grande de apoio dos denominados “red necks”, que o adoram duma forma alucinada muito semelhante a uma forma de adoração dum líder de uma seita religiosa, do que a um líder dum partido político, tendo o corolário do seu mandato terminado com a orquestração dum assalto ao Capitólio, por não aceitar uma derrota nas urnas.
Biden foi a esperança na qual os eleitores americanos votaram, de olhos fechados, como dizia Álvaro Cunhal, por não ser o Trump, não porque fosse um grande político, mas porque era a única alternativa credível, no entanto a escolha dessa personalidade não foi desde o início consensual, era um homem indicado para ser o número dois duma administração, não para ser um líder, o líder de que a América e o mundo precisavam, pois a sua autoridade nunca foi determinante nem internamente, nem externamente, onde a sua autoridade tem sido contestada, deixando o mundo à beira dum ataque de nervos.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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