Geral Opinião

Trump e o princípio da incerteza

O princípio da incerteza de Heisenberg da mecânica quântica, que Heisenberg estabeleceu, afirma não poder ser determinado com exatidão, o momento e a posição duma subpartícula atómica, independentemente da evolução tecnológica que o material venha a atingir, algo semelhante ao que se passa na natureza, em que o determinismo é uma raridade.

Este princípio da incerteza, pode ser aplicada à política da administração Trump, pois nunca se pode prever, nem a sua posição sobre qualquer assunto, nem o momento em que a virá a tomar, ou não, como se tem visto ao longo da sua, ainda breve administração, mas que tem colocado o mundo à beira de um ataque de nervos.

Tomando como exemplo os últimos dias, a propósito da guerra da Ucrânia, em que apoiou a posição europeia e ucraniana, no sentido de se estabelecer um cessar-fogo imediato por um período de trinta dias, antes de se dar início a conversações de paz, ameaçando a Rússia com sanções draconianas, mas mal Putin declarou que iria iniciar conversações diretas com a Ucrânia, no dia 15 de maio, imediatamente pressionou Zelensky para o fazer, abandonando a posição da necessidade de haver um cessar-fogo prévio.

Em relação ao médio-oriente, Trump parece ter abandonado Israel, antigo aliado preferencial, na mira de estabelecer negócios  pessoais e não só, com os Árabes, numa nítida promiscuidade entre interesses pessoais e do Estado, tendo subitamente decidido, a pedido do príncipe da Arábia-Saudita, com quem fez negócios de milhões, satisfazer o pedido e receber o novo Presidente da Síria, com a promessa de lhe retirar as sanções americanas, que sobre o seu país imperam há cerca de duas décadas, tirando dessa forma subitamente o tapete a Netanyahu, que lhe tinha pedido que o não fizesse, por já ter iniciado uma guerra preemptiva contra a Síria , com receio de que o seu novo governo venha a ordenar ataques terroristas contra Israel em apoio do Hamas.

Esta receção do novo Presidente Sírio com a promessa de lhe retirar as sanções ao seu país, era algo que ninguém contava, que acontecesse, pois não constava da agenda oficial da viagem oficial de Trump, embora em minha opinião, desta vez, tenha sido uma opção acertada, do ponto de vista da estabilização do Médio-Oriente.

Enfim, a imprevisibilidade desta administração obriga aliados e adversários a planear na incerteza, ou seja, a levantar todas as hipóteses e a não descartar nenhuma, pois não há uma hipótese  mais provável que venha a ocorrer, tudo é incerto, não há coerência, nem determinismo, tal como no universo quântico das subpartículas atómicas.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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