A ansiedade nas crianças e adolescentes é um cada vez mais comum. Conheça os sinais, saiba como lidar e quando procurar ajuda.
A ansiedade é uma resposta natural do organismo humano diante de situações percebidas como ameaçadoras ou desafiadoras.
- É importante destacar que a ansiedade ocasional faz parte do desenvolvimento infantil normal.
- No entanto, quando a ansiedade se torna excessiva, persistente e interfere no funcionamento diário da criança ou do adolescente, pode ser indicativa de uma perturbação de ansiedade.
A prevalência da ansiedade em crianças varia de acordo com os estudos.
- Estima-se que aproximadamente 10% a 20% das crianças em idade escolar possam ter algum tipo de perturbação de ansiedade.
A pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo na saúde mental das crianças e adolescentes sobretudo pelo aumento da ansiedade e do stress.
- A incerteza em torno da pandemia, o medo de ficar doente ou perder familiares queridos, a adaptação a novas rotinas e a falta de interação social contribuíram para o aumento das perturbações de ansiedade nas crianças.
Perturbações da ansiedade mais comuns
As perturbações de ansiedade mais comuns em crianças incluem:
- Perturbação de ansiedade de separação;
- Fobia específica;
- Perturbação de ansiedade generalizada;
- Perturbação de pânico;
- Perturbação de ansiedade social.
Quais são os sinais de ansiedade
As manifestações da ansiedade variam com a idade e nível de desenvolvimento da criança.
São alguns sinais comuns de ansiedade em crianças e adolescentes:
- Preocupação excessiva e persistente em relação a várias áreas da vida, como escola, desempenho académico, amizades, saúde ou eventos futuros.
- Medos irracionais ou fobias intensas, por exemplo relativamente a animais, ao escuro, a altura, entre outros.
- Sintomas físicos, como dores de estômago, dores de cabeça, náuseas, tontura ou dificuldade para dormir.
- Comportamentos de evitamento, como evitar atividades, desafios ou situações que possam provocar ansiedade, como ir à escola, participar de eventos sociais ou falar em público, entre outros.
- Perfecionismo extremo e medo de cometer erros.
- Nervosismo, inquietação ou irritabilidade frequentes.
- Dificuldade de concentração e distração constante.
- Sensação de preocupação constante e dificuldade em relaxar.
- Pensamentos negativos e catastrofizantes, antecipando sempre o pior cenário possível.
É importante que os pais e cuidadores estejam atentos aos sinais de ansiedade nas crianças e adolescentes.
- Algumas crianças podem expressar seus sentimentos de ansiedade verbalmente, enquanto outras podem apresentar comportamentos de evitamento, choro, irritabilidade ou queixas físicas, como dor de estômago ou dor de cabeça.
Tratamento da ansiedade nos mais jovens
O tratamento da ansiedade em crianças e adolescentes envolve um diagnóstico completo e uma abordagem multidisciplinar que pode incluir:
- Psicoterapia cognitivo-comportamental: tipo de terapia que ajuda a criança ou adolescente a identificar e modificar padrões de pensamento negativos e irracionais, além de aprender estratégias de enfrentamento saudáveis. Pode incluir técnicas como reestruturação cognitiva, exposição gradual a situações temidas e treino de competências sociais.
- Terapia familiar: A ansiedade pode afetar toda a família, por isso é benéfico envolver os membros da família no tratamento. A terapia familiar pode ajudar a melhorar a comunicação, reduzir a tensão e promover o apoio emocional à criança ou adolescente.
- Medicamentos: Em casos mais graves de perturbação de ansiedade, um profissional de saúde mental pode prescrever medicamentos para ajudar a controlar os sintomas. No entanto, a prescrição de medicamentos para crianças e adolescentes geralmente é considerada em último caso e é supervisionada de perto por um médico.
- Educação e apoio: É importante que a criança ou adolescente e sua família recebam informações e educação sobre ansiedade. Isso pode ajudar a normalizar os sintomas e promover estratégias saudáveis.
- Mudanças no estilo de vida: Promover um estilo de vida saudável que inclua uma dieta equilibrada, exercícios regulares, sono adequado e redução do estresse pode ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade.
Além destes, o apoio emocional dos pais e cuidadores é fundamental.
- O envolvimento ativo e o estabelecimento de uma comunicação aberta e empática podem ajudar a criança ou adolescente a sentir- se compreendido e seguro.
- É importante criar um ambiente tranquilo e estruturado, estabelecer rotinas e limites claros, e incentivar a criança ou adolescente a expressar seus sentimentos e preocupações.
Conselhos para lidar com problemas de ansiedade
- Compreenda a ansiedade
- Informe-se sobre o que é a ansiedade e como ela pode afetar as crianças e adolescentes. Isso ajudará a desenvolver empatia e compreensão.
- Crie um ambiente seguro
- Ofereça um ambiente acolhedor e seguro, onde a criança ou adolescente se sinta confortável para expressar seus sentimentos e preocupações. Estabeleça uma comunicação aberta e empática.
- Estabeleça rotinas e previsibilidade
- A ansiedade muitas vezes surge da incerteza. Criar rotinas e estruturas diárias pode ajudar a dar uma sensação de previsibilidade e controle.
- Ensine estratégias de relaxamento
- Respiração profunda, mindfulness ou meditação são alguns exemplos. Essas técnicas podem ajudar a reduzir a ansiedade e promover a calma.
- Incentive a prática de exercício físico
- A atividade física regular tem benefícios comprovados na redução do stress e da ansiedade. Incentive a criança ou adolescente a praticar exercício físico que seja de seu interesse.
- Ensine estratégias de enfrentamento
- Ajude a criança ou adolescente a desenvolver capacidades para lidar com a ansiedade, como identificar pensamentos negativos e substituí-los por pensamentos mais realistas e positivos.
- Evite superproteção
- Embora seja importante oferecer apoio emocional, também é essencial permitir que a criança ou adolescente enfrente situações desafiadoras para desenvolver capacidades de enfrentamento.
- Procure ajuda profissional
- Se a ansiedade persistir e interferir significativamente na vida da criança ou adolescente, procure ajuda de um profissional de saúde mental.
Fonte: Paula Cristina Vilariça – Psiquiatria da Infância e da Adolescência (Hospital da Luz)
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