Geral Opinião

Será a História de Portugal um dogma?

A mitificação e mistificação da História de Portugal será que ainda é um dogma que não pode ser questionado?

A narrativa da história de Portugal foi no período do Salazarismo alterada, bem como foram reinventados e transformados alguns edifícios da nossa história, pois era preciso, que a história Pátria fosse mitificada, e mistificada, por forma a fazer crer que o regime fosse uma espécie de corolário, herdeiro e continuador desse mito de grandeza, que desde Dom João V nos persegue, e que o Palácio de Mafra tão bem representa.

Recordo-me de que os livros de história do meu ensino primário, hoje ensino básico, refletia esse paradigma de mitificação dos nossos heróis ao longo dos tempos, da nossa vontade indómita de lutar pela nossa independência, sempre contra Espanha, o nosso inimigo tradicional, tornando  essa luta num símbolo identitário muito forte, e que toda essa narrativa terminava sempre, com uma página onde referiam que a continuidade da história pátria estava a ser garantida pelos nossos soldados e futuros heróis, que estavam gloriosamente a combater em África.

Foram precisamente os militares, cansados da guerra, que fizeram o 25 de abril, e por isso fizeram história, e abriram caminho a que o país iniciasse um novo ciclo histórico, que normalmente se iniciam com uma revolução.

A narrativa mítica e mistificada da história Pátria inclusive, chegou ao cúmulo de mandar reconstruir, ou de refazer os nossos castelos com ameias, algo espúrio e que nunca existiu nas nossas fortificações, chegando ao ponto de lhes retirar o reboco branco que os revestiam, e que tornavam as paredes lisas para que fosse difícil escalá-los.

A narrativa histórica do regime não tinha nem permitia que alguém tivesse dúvidas sobre a nossa grandeza nunca incorporando outras perspectivas que podiam pô-la em causa.

A mitificação e mistificação da história, ainda hoje é, para alguns partidos políticos, uma verdade apodíctica, um dogma não admitindo que ninguém, nem mesmo o Presidente da República os possa sequer colocar em causa, introduzir novos  contributos, novas visões.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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