Ser criança
Falar de ser criança numa crónica no mês do natal, parece ser um cliché, no entanto ao recordarmos o nascimento de Cristo, com ele inconscientemente celebramos todos os nascimentos, que anualmente ocorrem no seio das famílias, nascimentos esses que são essenciais para a renovação da espécie, e que indelevelmente nos fazem ter esperança no futuro.
Não é por acaso que se celebra o nascimento de Cristo por altura do Solstício de dezembro, pois este período sempre foi considerado como especial, para algumas civilizações e religiões ameríndias, que, no passado, adoravam o sol como o seu Deus, por este ser essencial para a vida no planeta.
O nascimento de qualquer criança é, ou deveria ser, uma alegria para os seus progenitores, a quem a partir daquele momento lhes é dada a responsabilidade de educar uma criança, um novo e maravilhoso ser, que irá ser o nosso continuador, garantindo assim a preservação da família, garantindo assim a nossa imortalidade.
Ter a responsabilidade de criar e educar um novo ser vivo é algo que temos de assumir e garantir, pois esse pequeno ser, à nascença, tem direitos, consignados num documento da ONU, designado por Direitos Fundamentais da Criança, direitos esses que devem ser respeitados por todos os homens, todos os grupos, todas as religiões, todos os governos e todos os Estados globalmente.
Malgrado as crianças, terem os direitos supra-citados, nas inúmeras guerras e crises que atualmente proliferam no mundo, são elas as que mais sofrem os seus horrores. Na actual guerra civil que grassa no Yemen, os diversos repórteres de guerra relatam, que desde o início do conflito, já morreram milhares de crianças e que cerca de 400 000 mil estão em perigo de vida dada a fome que assola o país.
Infelizmente esta barbaridade repete-se diariamente na Síria, no Sudão, nas perigosas travessias do Sahel e do mediterrâneo efectuada por migrantes políticos e/ou económicos em direcçãoo à Europa, nas marchas de migrantes provenientes da América do Sul em direcção aos USA, e na retirada e encarceramento dos filhos desses mesmos migrantes, que conseguem atravessar ilegalmente a fronteira dos USA, enfim em tantos outros locais que não conseguimos enumerar, mas que sempre nos emociona quando estamos, hipocritamente, sentados no recanto das nossas casas.
Ser criança no século em que vivemos não é fácil, nem nunca o foi, mesmo neste pobre canto à beira-mar plantado, que em virtude da endémica pobreza extrema, de cerca de dois milhões de portugueses, facto que os impossibilita de criar e educar os seus filhos, que, por essa razão, são cada vez em menor número, colocando em risco o futuro da pátria que habitamos.
Sem políticas públicas capazes de erradicar a pobreza, de fomentar o aumento da natalidade, e de apoio efectivo às famílias numerosas, haver crianças neste país, começa a ser uma miragem que no limite tenderá para zero.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva.
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