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Reflexões sobre literatura estrangeira traduzida

Ofereceram-me vários livros de literatura estrangeira traduzidos por vários e distintos tradutores, incluindo o livro póstumo de Gabriel Garcia Marquez, que ele escreveu no fim da vida, e que não queria que fosse editado, por achar que o pequeno romance não tinha qualidade, dado que se sentia com algumas dificuldades cognitivas, como é hábito quando começamos a envelhecer.

A literatura é uma arte, em que as pinceladas de cor, as formas e os ambientes, são pintados com adjetivos, com hipérboles, e outras figuras de estilo, que vão adornando a narrativa, usando muitas vezes uma linguagem linguagem conotativa, que a vai pontuando, levando cada leitor a, só com a linguagem, imaginar visualmente o que os autores descrevem e tentam transmitir.

Não raras vezes lemos um livro e posteriormente vamos a um cinema, para ver um filme cujo guião se baseia num livro que lemos, que interpretámos e imaginámos, e verificamos que o filme não corresponde, com a visualização que como leitores internamente imaginámos e interpretámos, pois a visão do guionista e do realizador são diferentes da tua, às vezes até paradoxalmente opostas.

O problema da literatura traduzida é semelhante ao problema que referi em relação ao cinema, pois é impossível traduzir à letra uma obra literária, pois noutra língua muito dificilmente se conseguem traduzir as figuras de estilo, o significado da adjetivação, em suma a obra artística literária, e as pinceladas dadas com as palavras, podem não conseguir transmitir o que o autor pretendia.

Há uns anos muitas vezes procuravam-se e compravam-se os livros pelos tradutores, porque os bons tradutores na realidade têm que rescrever praticamente o livro, havendo bons tradutores como o Vasco da Graça Moura, que na brincadeira se dizia, que as obras por ele traduzidas eram obras literárias melhores que o original.

Em síntese, se puderem e souberem comprem e leiam as obras literárias no original.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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