Na passada quinta-feira, ao ver o resumo dos Jogos Olímpicos na RTP 2 , bem como a assistir a todos os telejornais nacionais, só se falava e comentava o caso da ginasta dos EUA, Simone Biles, e da sua desistência dos Jogos, por alegada pressão psicológica, provocada pela pressão da competição e pelas alegadas expetativas de resultados, que todos dela esperavam, treinadores, patrocinadores e o próprio povo americano.
Ao ouvir os diversos especialistas, comentadores desportivos e testemunhos de atletas portugueses, na atualidade, cheguei à conclusão que realmente já tinha umas longas décadas de vida, quando não ouvi ninguém recordar o grande atleta que foi Fernando Mamede, que na década de oitenta do século passado, em competições oficiais importantes, se debatia sempre com problemas psicológicos semelhantes aos apresentados por Simone Biles, não os conseguindo superar, levando-o mesmo a desistir a meio das provas de corrida em que participava nas competições oficiais mais importantes.
Na época, pela primeira vez na nossa história desportiva como nação, tínhamos conseguido ganhar pela primeira vez medalhas nas Olimpíadas pois, tínhamos um bom treinador e selecionador Moniz Pereira, e um punhado de bons atletas, de que são exemplo o nosso maratonista Carlos Lopes e, posteriormente, a maratonista Rosa Mota, que alcançaram medalhas de ouro em diferentes edições dos Jogos Olímpicos.
Lembro-me na altura estes factos terem exaltado o nacionalismo português, e também me lembro da condenação popular, e inclusive, do ataque de vandalismo popular que uma loja de desporto sua propriedade sofreu, após uma desistência numa prova importante, de que Fernando Mamede, imerecidamente foi alvo, porque apesar de ser detentor de recordes mundiais na disciplina de atletismo em várias distâncias, alcançados em “meetings” particulares, quando chegava aos Jogos Olímpicos soçobrava com a pressão.
A diferença de tratamento mediático e popular nestes casos psicológicos, hoje em dia, é tremendo, pois atualmente por termos plena consciência que os homens não são máquinas, e que a componente emocional e psicológica é fundamental para se ganharem medalhas, ao invés de condenarmos a atleta, solidarizamo-nos com ela, e compreendemos perfeitamente a situação.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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