O Ocidente não tem, infelizmente, a cultura política de pensar a longo prazo, ou seja, de estabelecer objetivos políticos e estratégicos que atravessem vários governos, e atrevo-me a dizer várias gerações.
Eu sei que a luta política numa democracia faz-se pelo confronto de ideias, e não de memes ou de notícias falsas, e que é difícil alcançar consensos para pactos de regime, muito menos atualmente, em que as narrativas mudam quase diariamente. No entanto, tem de se fazer um grande esforço nesse sentido, bem como evitar considerar os adversários políticos como inimigos.
Esta crónica surge na sequência da visita de Trump à China, em que os EUA foram de chapéu na mão pedir aos chineses que não lhes cortem o acesso às terras raras, as matérias-primas essenciais do século XXI. Os chineses perceberam isso em 2001 e, para além de possuírem as terras raras, são também detentores de todos os processos e fábricas para as depurarem, algo que o Ocidente, globalmente, não tem, embora existam terras raras noutras geografias às quais possa ter acesso para as extrair.
A política das tarifas não funcionou com a China, que deixou de exportar 27% do que exportava para os EUA e, mesmo assim, conseguiu aumentar a sua balança comercial com o exterior em 7%. Ou seja, encontrou mercados alternativos. O único trunfo de Trump são os chips da Nvidia, mas mesmo esse pode ser frágil: se a China for muito pressionada, pode invadir Taiwan e resolver o problema. Sob forte pressão, pode sentir-se tentada a antecipar essa decisão, pois, de acordo com a filosofia chinesa, Taiwan é território chinês, e eles têm tempo para esperar. O tempo, para a China, é diferente do nosso.
A China joga em tabuleiros de longo curso, o Ocidente move-se em calendários eleitorais. Essa assimetria explica muito do que está a acontecer e do que ainda virá a acontecer. O tempo, para eles, é estratégia; para nós, é pressa. E a pressa, na política internacional, paga-se caro.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma












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