Geral Opinião

Patriotismo e Nacionalismo: O coração e a armadilha

Quando se pretende discutir qualquer assunto relacionado com a Ciência Política, é necessário partir de conceitos naturalmente contestáveis mas que, para serem debatidos com seriedade, devem assentar numa base conceptual comum. Caso contrário, qualquer discussão torna-se espúria. Quem propõe conceitos diferentes deve, no mínimo, defini-los de forma mais abrangente ou mais restritiva, para que haja entendimento.

Vem esta minha crónica de hoje retomar o tema do patriotismo e do nacionalismo, que, embora partilhem alguns traços, são realidades opostas.

O patriotismo é a manifestação emocional de amor à terra ao território onde nascemos e onde nasceram os nossos antepassados e pela qual estamos dispostos a sacrificar-nos: para a defender, para a exaltar. As ligações emocionais à Pátria manifestam-se de várias formas no desporto, quando jogam as seleções, ou quando ouvimos o hino nacional e, sem querer, os olhos se nos enchem de lágrimas.

O nacionalismo, por sua vez, parte do conceito de nação, entendido aqui como uma comunidade humana que partilha cultura, história, memória coletiva e identidade. Contudo, ao transformar essa pertença numa ideologia de exclusão, o nacionalismo subverte o sentimento de pertença em instrumento de domínio. É nesse ponto que se torna perigoso: uma ideologia que tende a afirmar a superioridade de uns sobre os outros, negando a dignidade de povos distintos, culturas diferentes ou religiões alheias. Foi assim que o nacionalismo deu origem a algumas das páginas mais sombrias da história da humanidade.

O nacionalismo é, por isso, uma armadilha. Uma ferramenta à qual os autocratas recorrem para se afirmarem e consolidarem o poder, frequentemente lançando guerras e invasões em seu nome. Hitler foi um exemplo trágico desse caminho. Putin é hoje outro exemplo, ao recorrer ao nacionalismo russo para justificar a invasão da Ucrânia território que, segundo ele, pertenceria historicamente à “grande nação russa”.

A fronteira entre amor à Pátria e ideologia de exclusão é ténue. Por isso mesmo, importa sabê-la traçar. O patriotismo é o coração. O nacionalismo é a armadilha.

Nuno Pereira da Silva

Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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