A UE desde a sua formação tem uma Constituição Informal, constituída por dois documentos, designadamente o Tratado de Lisboa, que se divide em dois documentos, o Tratado da UE e o Tratado sobre o funcionamento da UE, tendo nele ainda sido acoplado a Carta dos Direitos Fundamentais da UE, onde neles estão espelhados os valores comuns de todos os estados membros, ou seja, o designado na língua inglesa por “common ground”.
Na feitura dos documentos houve acesas discussões, principalmente nas referências, que o Tratado no deu preâmbulo faz relacionados com os antecedentes históricos comuns, em que foi decidido não colocar, que a UE tinha na sua génese uma matriz judaico-cristã comum, facto que causou acaloradas e acesas discussões no decorrer dos trabalhos, não se tendo chegado a consenso da sua inclusão.
Os decisores políticos da UE não quiseram, propositadamente, que nos seus documentos houvesse qualquer referência a Deus, pois quiseram vincar que nela há uma completa separação, entre o poder das diferentes Igrejas Europeias, Cristãs e não Cristãs, ou seja, o poder teológico, e o poder político, talvez porque, e ao contrário dos EUA, a história da velha Europa tenha sido marcada, muitas vezes negativamente, por guerras, cismas, pelo poder do imperador exercido pelo Papa, enfim no fim ao cabo acabou por querer dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, tal como Cristo nos ensinou nos Evangelhos.
Os valores Europeus são atualmente os valores filosóficos e políticos, que fruto da Revolução Francesa, levaram posteriormente à constituição do Estado Liberal, em que a Democracia Liberal se foi desenvolvendo e se alicerça, e em que a separação de poderes, e a liberdade de Informação, são nele valores inalienáveis. Realço que o nas Democracias liberais o poder dos governantes emana do voto popular, e não de Deus, ao contrário das monarquias absolutas, do antigo regime, em que o poder do monarca era concedido por Deus, e que através dele se estabelecia uma ligação direta, entre o céu e a terra.
Para além dos valores supra referidos, e que estão plasmados no Tratado da UE, os valores Universais expressos na Carta Universal dos Direitos Humanos da ONU, estão também plasmados, entre outros, na Carta dos Direitos Fundamentais da UE, ao Tratado de Lisboa acoplado.
Pelo referido o facto de Trump, afirmar ter sido eleito Presidente, entre outras coisas, também por ter sido objeto dum milagre divino, pelo facto de ter sobrevivido ao atentado de que foi alvo na campanha eleitoral, sendo por isso o escolhido por Deus, o ungido para liderar os EUA, aliado à crescente influência do lobby Judaico, e das igrejas fundamentalistas evangélicas, que com as suas interpretações literais da Bíblia condicionam e manipulam a política dos atuais EUA, que na sua “praxis” , parece terem voltado, aos valores do antigo regime, anteriores à Revolução Francesa, o que os levam a fazer tábua rasa dos mais elementares direitos concernentes à dignidade humana nomeadamente , dos migrantes, das minorias, e da igualdade entre géneros, são valores que a UE não comunga, nem pode comungar no século XXI, bem como não comunga dos valores iliberais, a caminho duma autocracia para que os EUA estão a caminhar, que são mais semelhantes aos valores do regime autocrático de Putin, do que os da UE.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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