Quem entrasse ou saísse de Mafra há uns anos pela ora entrada Oeste da auto-estrada, no miradouro, onde hoje existe uma estátua surrealista do escultor Moisés Preto Paulo, escultor que muito apreciamos, existiam dezenas de réplicas dos moinhos de vento existentes no concelho de Mafra e por toda a zona saloia, permanentemente à venda, moldados no barro característico da região, que tão bons artesãos ainda possui a trabalhar essa matéria prima, de vários tamanhos, todos de branco pintados e debruados a azul, com as respetivas brancas velas içadas, que com o vento constante da terra do convento, rodavam sem cessar num incessante frenesim.
Não conheço praticamente ninguém que habitasse em Mafra, ou que viesse a Vila visitar, que não parasse nesse miradouro sobre o vale, que não comprasse um moinho como recordação. Como tantos mafrenses de naturalidade ou de coração também possuímos, numa das prateleiras da nossa biblioteca, um pequeno moinho, comprado há cerca de quarenta anos, quando para a região decidi vir morar e constituír família.
Os vendedores de moinhos já não existem, por muita pena nossa, no mesmo local há uns anos, pois essas réplicas dos moinhos de vento na entrada principal de Mafra, reflectiam a identidade da região e das suas gentes, sendo um dos seus mais icónicos símbolos, pois fazem e faziam parte integrante da paisagem, muito embora já não funcionem nem funcionassem à época , como outrora, para moer a farinha com que em tempos idos se fazia o ainda célebre pão de Mafra.
Muito embora nenhum moinho da região esteja classificado como património, na extensa lista de património do Concelho de Mafra, publicada em Diário da República, somos da opinião que o deveriam urgentemente ser, e que pelo menos a autarquia Mafrense, os venha a classificar como património de interesse municipal, facto que seria determinante para a preservação deste tão importante traço identitário da região.
Só com essa classificação inscrita em Diário da República os moinhos saloios, poderão ser preservados e poderão resistir à crescente pressão imobiliária que assola o Concelho, dado que este património rural, normalmente está situado em pontos elevados, com vistas deslumbrante sobre o pedaço de Oceano, que banha o nosso concelho, devendo, mesmo que sejam autorizadas urbanizações nos locais onde estes se inserem ser nelas integrados, reconstruídos, preservados e realçados, pois só assim as gerações vindouras, continuarão a ter referências históricas identitárias da região de Mafra, onde se fabrica um dos melhores pães nacionais.
Sabemos de idónea fonte que a destruição de alguns desses moinhos na zona da Ericeira, causou muita tristeza na população, que os tinha no coração, esperemos que a edilidade Mafrense de futuro, não autorize a que se destrua mais nenhum desse nosso património rural.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
Adicionar comentário