Os russos concentraram tropas e estão novamente a atacar a sul de Kharkiv, num eixo de aproximação que permite entrar no Donbas e conseguir envolver Bakhmut, ou seja, atacar de flanco as tropas ucranianas que estão a contra-atacar Bakhmut.
Este eixo de aproximação onde os russos estão a atacar é conhecido como a porta de entrada para dominar o Donbas. Para conseguirem deter este ataque russo com cerca de 100 mil homens os ucranianos vão ter de reforçar com tropas, todas as suas posições no Donbas, que ainda estão na sua posse para continuarem a ter esperança em conservar essa região, que é um dos objetivos declarados de Putin, ou seja, na prática os ucranianos vão ter de parar a sua contraofensiva e passar à defesa.
As lições que temos de tirar são evidentes, e resultam da falta de capacidade aérea dos ucranianos, para conseguir superioridade aérea local, no eixo de aproximação onde queriam fazer o ataque principal, uma vez que os russos com aeronaves que dispõem têm supremacia aérea, e será impossível fornecer aos ucranianos cerca de trezentos F16, para haver pelo menos paridade em termos de meios aéreos.
A segunda lição a tirar é que os ucranianos não tiveram tempo para treinar com o material de última geração que lhes foi dado, nem tiveram tempo de assimilar a doutrina necessária para que os meios tenham eficácia, ou seja, com novos meios a doutrina Soviética para os usar não é a adequada.
A outra lição a tirar a tirar é que os russos aprenderam com o desaire que tiveram quando quiseram tomar Kiev, e estão agora mais eficientes em termos de organização e planeamento o que os faz serem mais eficazes no combate.
Concluindo os interesses do Ocidente alargado, liderados pelos EUA não são totalmente coincidentes com os da Ucrânia, pois se para os primeiros o objetivo é desgastar a Rússia e o seu potencial de combate, para os ucranianos objetivo é reconquistar todo o território ocupado, o que quer dizer que o apoio Ocidental pode parar quando considerarem que os seus interesses foram atingidos, conforme Biden referiu explicitamente em Vilnius, ao afirmar que Putin já tinha perdido a guerra, após o desgaste que sofreu no seu potencial de combate com a entrada da Finlândia e da Suécia na NATO e acima de tudo porque a NATO ao ressuscitar abafa todos os desejos de autonomia estratégica da União Europeia em termos de defesa, continuando esta a ser um gigante económico, mas um anão político, completamente dependente dos EUA.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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