O stress intenso ou persistente tem efeitos a vários níveis, nomeadamente cardíacos. Saiba quais os hábitos de vida saudável que ajudam a combatê-lo.
Stress é o que sentimos quando estamos sob pressão, temos tarefas em excesso ou não conseguimos lidar com alguma situação.
- Em pequenas quantidades, o stress pode ser bom e ajudar-nos a ultrapassar desafios;
- No entanto, quando em excesso, o stress pode ter um impacto negativo no nosso humor, bem-estar físico e mental, ou relações interpessoais.
O stress pode ser normal?
Uma resposta de stress é um mecanismo de defesa, que nos protege. Permite que estejamos alerta, mais atentos, e que consigamos responder com as ações que forem necessárias a situações inesperadas, ou menos habituais.
A produção e libertação de hormonas relacionadas com o stress, como a adrenalina e o cortisol, faz parte dessa reação de stress, e traduz-se num aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial para fazer face às maiores necessidades de oxigénio que os tecidos e órgãos têm nestas circunstâncias.
Assim, o stress agudo, pontual, é normal, protetor e faz parte do dia a dia de todos nós.
Acontece em ocasiões diversas e com intensidade variável: uma preocupação com alguém ou alguma coisa, um exame, ter de trabalhar depois de uma noite mal dormida, estar atrasado para ir buscar os filhos à escola, ter um prazo apertado para cumprir, e tantas outras.
E se o stress passa a ser a regra?
Quando o stress é muito intenso ou persiste no tempo, em especial quando nos sentimos a perder o controlo, a nossa saúde mental e física pode ser colocada em risco.
Entre as causas comuns de stress crónico nos adultos contam-se:
- Problemas conjugais;
- Dificuldades financeiras;
- Questões profissionais;
- Dificuldade em conciliar a atividade profissional com a vida familiar, particularmente quando há crianças ou idosos a cargo;
- Solidão.
Este stress mantido leva a alterações no organismo:
- No sistema nervoso autónomo;
- No sistema cardiovascular;
- Na coagulação;
- Nos fatores de imunidade.
O stress crónico e persistente provoca sintomas como irritabilidade, desinteresse, tendência para o isolamento, dificuldades em dormir e fadiga.
Apesar do stress não ser considerado um problema de saúde mental, pode agravar ou desencadear problemas como a ansiedade ou depressão.
Adicionalmente, o stress provoca sintomas que podem simular outras doenças, tais como dificuldade em respirar, dor no peito, diarreia, desmaios, suores, entre outros.
O stress faz mal ao coração?
O stress tem sido associado a um aumento do risco de eventos cardíacos, nomeadamente arritmias, enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral porque, pelos seus efeitos no organismo, o stress provoca:
- Instabilidade elétrica cardíaca;
- Isquemia do miocárdio;
- Rotura de placas de aterosclerose;
- Formação de coágulos no sangue;
- Aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca;
- Aumento dos valores de glicemia e de insulina em circulação.
Adicionalmente, o stress associa-se ao consumo de álcool, tabaco e drogas, que também podem contribuir para o aparecimento de doenças cardíacas.
Na população em geral, o stress tem sido associado a um risco 30% superior de desenvolver problemas cardiovasculares.
- Em pessoas com doença cardíaca conhecida, um episódio de stress agudo intenso – por exemplo, uma discussão intensa, uma notícia menos boa ou até um jogo de futebol -, pode aumentar o risco de um evento agudo em quase cinco vezes.
- Mais raramente e em situações extremas, o stress pode mesmo ser responsável por uma lesão aguda do coração, designada de síndrome do coração partido.
Combater o stress com hábitos de vida saudável
Os fatores que provocam stress não são os mesmos para todas as pessoas, nem estas reagem de igual forma ou intensidade quando são afetadas pelos mesmos fatores.
Por isso, para combater o stress há que refletir e identificar, para cada pessoa, quais são fatores que o causam, qual é a sua importância relativa e tentar, então, controlar as reações físicas e psicológicas que induzem. É comum que esta tarefa precise de apoio profissional, por exemplo de médicos ou de psicólogos.
No entanto, há também iniciativas individuais que ajudam:
- Fazer exercício físico tem múltiplos benefícios diretos e indiretos no controlo do stress e na saúde em geral:
- Diminui as reações físicas ao stress: modera a resposta de aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial;
- Contribui para uma boa saúde cardiovascular: ajuda a controlar o peso corporal e a pressão arterial e melhora a mobilidade;
- Diminui o risco de ansiedade e depressão.
- Fazer uma alimentação saudável;
- Não fumar;
- Beber bebidas álcoolicas com moderação;
- Promover e cultivar as relações famíliares e de amizade permite ter uma boa rede apoio e diminui a probabilidade de optar por comportamentos de controlo de stress menos saudáveis;
- Quando a vida profissional, seja pela sua exigência ou por qualquer outra razão, é um fator de stress: estabeleça limites de horas de trabalho, goze os fins de semana e as férias, retome passatempos favoritos, tente melhorar o equilíbrio entre a sua vida pessoal e a vida profissional;
- Reservar tempo para relaxar: desde momentos sem fazer nada, até atividades específicas de relaxamento dependendo das preferências.
Fonte: Dr. José Ferreira Santos – Cardiologista no Hospital da Luz
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