Quem leu o livro “A Manhã Submersa” de Virgílio Ferreira, fica com a ideia que nos seminários, onde na altura estudavam inúmeros alunos, cujos progenitores, não tinham capacidades económicas que permitissem os filhos continuarem os seus estudos, pelo que para o fazerem tinham obrigatoriamente de os enviar para um seminário, que ao acolhê-los, poderia despertar novas viciações sacerdotais, fica estarrecido com a forma como o autor descreve, a inadequada e desastrada forma dos padres formadores lidarem com os problemas e as tensões da sexualidade juvenil dentro do seminário, em que nalgumas das narrativas, a pedofilia parecia estar sempre implicitamente presente.
A forma como o sexo é encarado pela Igreja, é algo que tem marcado gerações de cristãos e sobretudo católicos em todo o mundo, pois é uma relação contranatura, em que a masturbação e o sexo fora do casamento são pecados graves, quiçá mortais se roçarem a luxúria, bem como no casamento, este dever ser praticado exclusivamente com a finalidade de procriar, retirando qualquer prazer da equação, por este também ser pecado.
Esta paranoia de considerar o sexo um pecado, e dos padres não se poderem realizar como homens plenos em termos sexuais, numa relação matrimonial normal, leva a que no seu recrutamento haja muita dificuldade em conseguir atrair novas vocações, deixando caminho aberto para que indivíduos com dificuldades em sociabilizar, recalcados, frustrados e com uma fraca estrutura moral, ao sacerdócio tenham acesso e, venham posteriormente a abusar do poder que têm, em estruturas piramidais como os seminários, exercendo funções de professores e tutores, aonde poderão cometer a coberto do silêncio e do medo crimes hediondos, como o da pedofilia.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na reforma
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