Quando as enxaquecas são curtas, mas recorrentes e intensas, pode tratar-se de cefaleias em salvas. Conheça melhor este tipo de dores de cabeça.
Uma cefaleia é o mesmo que uma dor de cabeça. No entanto, em função da intensidade, causas ou áreas do cérebro atingidas, existem 14 grandes tipos de cefaleias, que se subdividem em mais de 200 formas. Enxaquecas, por exemplo, existem cerca de 20 formas distintas. Tanto podem ser um ligeiro incómodo, como prolongar-se no tempo ou ser incapacitantes. Entre as mais graves encontram-se as cefaleias em salvas, frequentemente descritas como a dor mais intensa experimentada pelas pessoas afetadas, mas não é apenas a intensidade que as caracteriza.
O que são as cefaleias em salvas?
As dores de cabeça mais comuns são de tensão, provocadas por uma sensação de aperto no crânio, que pode ser notada nos dois lados da cabeça ou no pescoço. Seguem-se as enxaquecas, que atingem normalmente apenas um dos lados da cabeça, e que se caracterizam por uma dor forte, por vezes pulsátil, acompanhada por intolerância à luz, ruído ou até cheiros. As enxaquecas podem durar entre algumas horas e três dias, afetando muito a qualidade de vida.
Quanto às cefaleias em salvas, destacam-se pela dor lancinante que provocam, apenas num dos lados e muito concentrada na têmpora e na região atrás dos olhos. Duram entre 15 minutos e três horas e, além de a dor ser mais forte do que numa enxaqueca, repetem-se diversas vezes – até oito episódios num dia – em vários dias ou semanas. É daí que surge o nome “em salva”, que remete para a repetição da dor, por vezes nos mesmos horários. Após esse período desaparecem durante um mês ou até mais, antes de uma nova crise.
Sabia que…
A maioria das cefaleias são primárias, não estão associadas a outras doenças ou a um traumatismo craniano. Apenas 10 % das cefaleias são secundárias, causadas por meningite, hipertensão arterial, tumor cerebral ou acidente vascular cerebral.
Quais as principais características das cefaleias em salvas?
Além da intensidade da dor e de acontecerem várias vezes num só episódio, as cefaleias em salvas são mais frequentes nos homens, principalmente entre os 20 e os 50 anos, e afetam apenas uma em cada mil pessoas. Podem surgir em qualquer momento, mas há momentos do dia ou do ano em que a ocorrência é mais comum.
Algumas das suas características são:
- Dor muito intensa e inesperada, tipo facada
- É comum de madrugada, acordando a pessoa
- Mais frequente na primavera e no outono
- Dura minutos ou horas, mas repete-se várias vezes ao dia
- Provoca lágrimas, pálpebra descaída e olho vermelho
- Afeta o nariz, do lado da dor, que fica entupido ou a pingar
- Agitação, dificuldade em ficar quieto, devido à dor
Sabia que…
Nos casos mais graves, os episódios de dor durante cefaleias em salvas são tão intensos que levam as pessoas ao desespero, afetando a sua saúde mental e provocando pensamentos suicidas.
Existem fatores de risco?
A história familiar e genética tem um peso importante no aparecimento das cefaleias em salvas, mas existem outros gatilhos para este tipo de dores de cabeça:
- Consumo abusivo de álcool ou tabaco
- Medicamentos que dilatam os vasos sanguíneos, como a nitroglicerina
- Alterações nos padrões de sono
- Intolerância à histamina
- Stress
- Alimentos como chocolate, café, enchidos e queijos
- Alterações meteorológicas
Como é feito o diagnóstico de cefaleias em salvas?
As diferenças entre cefaleias em salvas e enxaquecas nem sempre são evidentes, pelo que por vezes demora a ser identificado o problema concreto. Para um diagnóstico correto, o mais importante é a história clínica, a descrição exaustiva dos sintomas, ou a presença de sintomas que possam ser observados pelo médico, como a inflamação num dos lados ou os efeitos no olho e na pálpebra.
Exames como a tomografia computorizada (TAC) ou uma ressonância magnética, mais do que distinguir a cefaleia, ajudam a excluir outros problemas que possam estar a provocar a dor. Também é recomendado frequentemente o preenchimento de um calendário ou tabela com a descrição de cada episódio e a medicação utilizada.
Tratamento para as cefaleias em salva
Não existe cura para este tipo de cefaleias, pelo que o tratamento passa por reduzir a dor e outros sintomas que causem incómodo ao doente. Como a dor é muito imprevisível e intensa, por vezes os analgésicos convencionais não chegam a fazer efeito. Os tratamentos mais comuns são oxigenoterapia (inspirar oxigénio puro, com máscara, durante alguns minutos); triptanos ou tartarato de ergotamina, fármacos também usados nas enxaquecas; e lidocaína, um anestésico.
Intervenções mais complexas incluem injetar um bloqueador no nervo occipital ou fazer estimulação nervosa com elétrodos. Existe também uma opção cirúrgica, que consiste na colocação de um elétrodo dentro do cérebro, mas é menos recomendada por ser bastante invasiva.
Outras terapias alternativas incluem o uso de alucinogénios ou de um spray nasal à base de capsaicina (químico presente nas malaguetas) para diminuir a dor, ou então medicamentos à base de melatonina, para regular o sono e reduzir a frequência das cefaleias. Os exercícios de respiração também são uma possibilidade a considerar, como forma de relaxamento.
É possível prevenir as cefaleias em salva?
Antecipar as dores de cabeça pode implicar fazer alterações ao estilo de vida, de forma a eliminar ou minimizar os fatores de risco. Paralelamente, além da estimulação nervosa, que pode ter efeitos preventivos ao longo do tempo, existem medicamentos específicos que ajudam a minimizar as cefaleias.
Verapamil, carbonato de lítio, valproato ou divalproato de sódio, e topiramato são os principais fármacos prescritos. Como não são medicamentos de utilização recorrente, normalmente é recomendado o início do tratamento assim que o episódio de cefaleias começa, prolongando-se até duas semanas após terminar, de forma a que durante a crise a dor surja menos vezes, com menos intensidade, e que o período sem cefaleias seja mais prolongado.
Como ultrapassar este problema?
As cefaleias em salvas são um problema crónico, que pode passar por fases de grande sofrimento e afetar o dia a dia pessoal ou profissional. Contudo, habitualmente não têm outras consequências para o cérebro ou a saúde em geral, e têm tendência a diminuir com a idade.
Caso tenha dores de cabeça frequentes e outros sintomas associados, fale com o seu médico assistente para determinar o diagnóstico específico. Se sofre de cefaleias em salva, siga as prescrições e recomendações feitas e fale com o seu médico assistente em caso de mudanças ou outras situações:
- Dores mais intensas
- Alterações no padrão cronológico habitual da cefaleia;
- Gravidez
- Medicamentos deixam de ser eficazes ou são necessários mais de três dias
- Cefaleias mais fortes quando se está deitado
- Febre ou pescoço rígido a acompanhar a dor
Se acha que a dor é mais forte e repentina do que alguma vez sentiu ou se tem dificuldades de comunicação, visão ou equilíbrio e isso não acontecia antes, deve procurar ajuda médica imediata, pois pode tratar-se de outra situação clínica mais grave.
Fonte: Cuf
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