O Estado português pagou 30 milhões de euros à Volkswagen para que a Autoeuropa, em Palmela, produza veículos elétricos. O gesto tem mais significado político do que económico.
A verdade é simples: se a fábrica fosse rentável por si só, não precisaria da almofada do Estado. A subvenção revela uma realidade incómoda: estamos a manter empregos de forma artificial, subsidiados por todos, para evitar uma crise social e política.
Não se trata de investimento estratégico, mas da compra de paz social. A Autoeuropa é demasiado grande para falhar, e o Governo sabe-o. Milhares de postos de trabalho e uma boa fatia das exportações dependem dela. Perder esse pilar seria devastador.
Mas este apoio não é gratuito. É o reflexo de uma economia dependente, vulnerável ao poder de negociação de multinacionais que ditam condições. Portugal aceita pagar para manter a ilusão de modernidade e a promessa de futuro.
A transição energética, neste caso, não resulta de inovação sustentável, mas de subsídios cruzados. Não é o mercado que decide, é a política que cede. E assim, seguramos empregos com fios invisíveis, prolongando um modelo que já não se sustenta.
Esta subsidio dependência da fábrica para se manter em Portugal e não se modernizar em termos de produção autónoma e robótica, parece ser o remédio que os Estados arranjam para subsidiar empregos fictícios. O problema é que, na era da Inteligência Artificial, estes “empregos protegidos” tenderão a multiplicar-se. Pergunto-me se este caminho é sustentável não a longo prazo, mas já no curto prazo.
Trinta milhões não compram competitividade. Compram tempo. E mostram, uma vez mais, o preço da nossa dependência industrial.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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