Geral Opinião

O Poder

Natureza do Poder

O poder não existe por si mesmo. Mesmo quando há meios, se não existir vontade, o poder permanece potencial, latente, sem consequência. Mas quando a vontade se manifesta, quem dispõe dos meios exerce-o inevitavelmente, precisando ou não de factos que o justifiquem. A sua existência depende tanto da capacidade de agir como da percepção de quem o observa.

Legitimidade do Poder

A autoridade para exercer o poder pode ser democrática ou autocrática.

No plano interno, a autoridade democrática é mais aceitável porque resulta do sufrágio. No plano externo, qualquer ação de um Estado só é legítima quando respaldada por um mandato internacional, como o da ONU. Caso contrário, o poder é ilegítimo e antiético.

A ética e o poder devem estar sempre alinhados; quando se desfazem dessa coerência, o poder degenera em dominação ou imperialismo.

Poder e Narrativa

O poder não se sustenta apenas por meios materiais ou força física. Ele depende essencialmente da narrativa que constrói. É a narrativa que molda perceções, cria consensos e legitima decisões. Sem narrativa, o poder é mero domínio; com narrativa, torna-se influência, sedução e consenso social.

O medo, a ameaça e a insegurança são frequentemente utilizados como catalisadores para justificar ações políticas e intervenções, produzindo adesão mesmo quando o argumento racional é insuficiente.

Poder, Ética e Humanismo

O poder deve ser orientado por uma perspetiva humanista, visando o bem-estar, a segurança e a prosperidade da comunidade.

Quando aplicado de forma ética, respeita limites internos e externos e não submete os outros.

Quando a ética é ignorada, o poder transforma-se em despotismo ou imperialismo, subordinando minorias, comunidades ou povos a interesses próprios.

Imperialismo e Subjugação

O exercício do poder que não respeita princípios éticos e humanistas tende a acomodar ou subjulgar outros.

O imperialismo não se manifesta apenas através da força militar ou económica; revela-se também na imposição cultural, ideológica e normativa.

A acomodação ou subjugação de comunidades externas é um afastamento deliberado da ética, visando consolidar autoridade e controle.

Conclusão

O poder é menos uma estrutura material e mais um estado de crença. Sustenta-se na convicção de quem o obedece e na vontade de quem o exerce. A sua força reside em definir o que é verdadeiro, necessário e inevitável, e em moldar perceções coletivas para gerar consenso.

A compreensão do poder passa pela análise de meios, vontade, narrativa, legitimidade, ética e impacto sobre outros. Somente a consciência destes elementos permite avaliar corretamente o seu alcance e a sua influência na sociedade.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma