Durante a guerra-fria a dissuasão nuclear parecia ser o antídoto para evitar a guerra, uma espécie da bala de prata, pois esta baseava-se no princípio da destruição mútua assegurada, ou seja, quem começasse uma guerra nuclear tinha a certeza que possivelmente seria o início do fim da humanidade, e de que uma potência nuclear, pelo simples facto de dispor dessas armas, também o não seria.
As grandes e médias potências baseavam pois, os seus planeamentos de defesa neste paradigma, da dissuasão nuclear, paradigma esse que com a recente guerra na Ucrânia e no Médio-Oriente, verificámos , que só funciona ao nível do eventual emprego das armas nucleares, mas que não evita de forma nenhuma que as guerras híbridas deflagrem, ou seja, é necessário planear a defesa com base noutros pressupostos.
A Rússia, como vimos, foi invadida em Kurst, e sendo essa uma das linhas vermelhas que tinha estabelecido para o emprego de armas nucleares, conforme também constava do seu conceito estratégico de emprego das mesmas, não as usou, e a guerra tem continuado duma forma híbrida, pois nenhum dos beligerantes soçobrou.
A tentativa desesperada de Israel e do Ocidente em impedirem a todo o custo que o Irão se arme nuclearmente, baseia-se neste paradigma errado, e desfasado da atual realidade, pois o facto do Irão se armar nuclearmente, não lhe trará, em minha opinião, nenhuma vantagem significativa, ou seja, não será por esse facto que dissuade um eventual ataque de outra natureza, e o mesmo se pode inferir visto da perspetiva do Irão, ou seja, não foi pelo facto de Israel ser uma potência nuclear que dissuadiu o Irão de o atacar, ou de se defender, conforme a perspetiva de análise.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reserva
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