A imagem que nos tem sido transmitida há anos é que o Natal tem de ser feliz. Não é por acaso que o principal voto natalício das várias línguas do mundo corresponda a: Feliz Natal!
Nesta época festiva, em filmes, músicas, publicidades e publicações nas redes sociais reinam os motes de felicidade, amor, família e união. E se fecharmos os olhos, a nossa subconsciência leva-nos imediatamente para perto de uma árvore de Natal alta, lindíssima, coberta de bolas douradas e estrelas brilhantes. As suas luzes refletem nos olhos das crianças, sorridentes e vestidas de forma elegante. A casa está cheia de pessoas de várias idades, onde todos sabem o seu lugar, o seu papel e o seu valor.
A mãe é bonita, perfeitamente maquilhada, nada cansada dos preparativos natalícios. A mesa está recheada de pratos tradicionais, mas servidos com toque gourmet. A música natalícia toca, os sinos intensificam a emoção, os olhares cheios de amor cruzam-se. Aparece o representante da magia – o Pai Natal – que traz os presentes, perfeitamente embrulhados e ainda melhor escolhidos. Todos estão felizes, saudáveis, bem apresentados e cheios de convicção que tudo está como devia estar. Mas é apenas uma imagem, que como todas as imagens, não representa a vida em todas as suas facetas.
Se recuarmos no tempo, chegaremos à ideia bíblica do Natal e encontraremos realmente alguns fundamentos que ainda hoje são atuais. Um deles é o amor, mas na forma mais vasta da palavra porque se traduz no amor pelo “outro”.
Quem é o “outro”? No sentido antropológico, o “outro” é um representante de outra crença, etnia ou situação distinta da nossa. No mundo contemporâneo tanto se pretende fazer pela paz, que já se descobriu que não existe melhor caminho do que a aceitação e a integração com o “outro”. A tolerância ativa permite-nos crescer, desenvolver e ultrapassar cada vez mais fronteiras, mas ainda há muito caminho a trilhar.
E depois, de repente no meio desta caminhada, chega o Natal. Se olharmos mais de perto conseguimos observar muitos “outros” com a mesma imagem idílica do Natal, mas que a vida os inseriu em circunstâncias muito diferentes daquelas imaginadas.
Há quem tenha frio, há quem não saiba se vai sobreviver até à primavera, há quem tenha perdido a vontade de viver, há quem faça luto, há quem não tenha ninguém, há quem não tenha esperança, há quem tenha nada…
Para se entender a situação cultural contemporânea é preciso olhar para a diversidade que coexiste e interage. O original espirito natalício aparece quando deixamos de caracterizar os indivíduos como “pobres”, “refugiados”, “solteiros” ou ”doentes”, procurando outras formas de olhar para quem é diferente de nós.
Que o Natal seja pretexto para tal e signifique partilha, tanto faz que seja física, material ou emocional. Que a empatia que tanto nos diferencia das outras espécies, estimule a criatividade desta época mágica, e todos possamos declarar com firmeza…Feliz Natal!
Texto da autoria da Prof. Dra. Anna Kosmider Leal – Antropóloga e linguista, fundadora da plataforma de ensino de línguas estrangeiras SpeakingParrot.net
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