Apesar de ainda haverem algumas escaramuças entre o Israel e o Hezbollah, que ocorrem diariamente no sul do país, que eventualmente poderiam ser considerados como uma violação do acordo de cessar-fogo, a maioria do povo do Líbano está muito esperançada com o futuro, e com a eventual proteção dos EUA e da França, que parecem apostarem no país, para servir de referencial à região do Médio Oriente, porque apesar de tudo a maioria do povo libanês, apesar das clivagens étnicas é urbano, e relativamente educado, tendo como termo de comparação a sua vizinhança, próxima e afastada dos países árabes.
O facto da fação militar do Hezbollah ter sido derrotada, é uma oportunidade para o Ocidente formar e armar, ou seja, de capacitar o Exército Regular do Líbano, atualmente quase inexistente, dado que as funções de defesa do território , desde o fim da ocupação Israelita de 2006, terem sido assumidas pela fação militar do Hezbollah, que aproveitou o vazio deixado por um Exército Regular fraco e inoperante, e que apesar de tudo foi essencial na luta contra o Estado Islâmico, que se tentou infiltrar no país através da sua fronteira norte.
O Hezbollah amputado do seu braço armado, poderá tornar-se um partido político credível, à semelhança do que aconteceu em África, com alguns partidos saídos da guerra colonial, ou como alguns movimentos terroristas europeus, na Irlanda e no País Basco, que largaram a luta armada e assumiram-se como partidos válidos e confiáveis.
Os mais moderados cidadãos libaneses, de que sou amigo de alguns, afirmam-me serem realistas, e em caso de necessidade estão prontos a ceder algum território do sul, a Israel a troco de paz, pois reconhecem que as suas fronteiras ainda não estão consolidadas, por não serem reconhecidas por Israel, que nalgumas partes do território libanês reclama direitos históricos.
O facto da capital do país, Beirute, não estar a ser recentemente atacada, e dos EUA estarem a construir uma enorme embaixada na região da capital, do tamanho duma enorme base militar, dá-lhes esperanças de que venha a haver paz, pois têm esperança que o Império Americano, à semelhança do Império Romano do Oriente, escolha desta vez o país como a sede desse império, pois sabem que sem a proteção duma potência exterior, não se governam, nem se querem governar.
Os libaneses da minha geração ainda se lembram do Líbano durante a época do socialismo árabe, onde tiveram crescimento, estabilidade e paz, até que os EUA armaram os Islâmicos radicais, em todos os países árabes, para combater indiretamente a URSS, o que levou ao descalabro atual e à consequente ausência de paz, e como são pragmáticos desejam manter a sua cultura e diversidade, e voltarem a desenvolver-se, não se importando e até, de certa forma ansiando, de se tornarem um protetorado americano.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
Adicionar comentário