Os interesses dos Estados são, em grande medida, perenes ao longo do tempo. Podem alterar prioridades, mas continuam a orientar decisões estratégicas, sobretudo nas áreas geopolítica e económica. A história das Relações Internacionais demonstra que, muitas vezes, teorias e abordagens são apenas roupagens novas para interesses antigos, como o controlo de matérias-primas ou o reforço do poder global.
Tomando os Estados Unidos como exemplo, embora o Presidente Obama e o Presidente Trump tenham adotado métodos distintos, os objetivos estratégicos mantiveram-se consistentes. Obama procurou conter a China e expandir o comércio, estabelecendo alianças na Ásia e procurando transformar a NATO numa organização mais cooperativa e economicamente integrada. Trump, por sua vez, priorizou acordos bilaterais e pressões comerciais, utilizando tarifas e condicionando o empenho militar dos aliados europeus para obter vantagens estratégicas, incluindo o apoio à Ucrânia.
Na União Europeia, enquanto Obama via a NATO como uma estrutura com potencial para evoluir economicamente, quase como uma CEE invertida, Trump transformou a aliança num instrumento de transações de armamento, pressionando os Estados a investir mais na sua própria defesa.
Estes exemplos revelam que, nos Estados soberanos, os métodos são tão importantes quanto os objetivos. A ética nas Relações Internacionais, a cooperação justa, o respeito pelo direito internacional e pelos princípios morais não são opcionais. Sem eles não existe confiança, nem negócios estáveis, e os fins nunca justificam os meios.
A política externa americana recente evidencia um tsunami amoral, cujas consequências levarão anos a ultrapassar. No entanto, a análise crítica destes métodos permite compreender melhor como e por que os interesses estratégicos se manifestam de forma diferente, dependendo da liderança e do contexto global.
Podemos refletir filosoficamente sobre a evolução da filosofia americana: a mudança de métodos evidencia uma transformação da ética que sustenta a confiança entre Estados. A ética não é um acessório, é a base que permite relações estáveis e duradouras. Os fins não justificam os meios. Quando a moral é afastada das decisões estratégicas, mesmo o poder mais forte se fragiliza, pois perde legitimidade e a confiança daqueles com quem interage. Esta lição é universal: uma política que não respeita princípios éticos, por mais eficiente que pareça a curto prazo, compromete a própria sustentabilidade do poder e da cooperação internacional.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma










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