Geral Opinião

O Dilema do Prisioneiro em Gaza: Reféns, Sobrevivência e a Força Árabe

O impasse em Gaza é hoje um manual vivo de teoria dos jogos, aplicado à guerra e à política. O Hamas, encurralado militarmente, sabe que não pode nem vencer Israel nem render-se sem garantias. Sabe também que, se entregar os reféns e depuser as armas sem condições, assina a sua sentença de morte. Por isso, estes reféns tornaram-se a sua “apólice de seguro”: a única barreira que impede Netanyahu de avançar até à aniquilação total.

O que se negoceia nos bastidores não é apenas a troca de reféns por trégua. O que o Hamas procura é uma transição controlada que lhe permita sobreviver fisicamente e manter alguma relevância na causa palestiniana, mesmo afastando-se do poder formal. A proposta que ganha força é a entrada de uma força árabe de imposição de paz — formada por países como Egito, Jordânia, possivelmente com cobertura saudita ou da Liga Árabe — que ocuparia temporariamente Gaza. Essa força recolheria as armas do Hamas, administraria o território e prepararia a entrega gradual da governação à Autoridade Palestiniana.

Para o Hamas, isto significa evitar a humilhação da rendição direta e escapar à destruição completa. Para os árabes moderados, seria a oportunidade de recentrar o dossiê palestiniano numa narrativa política e não jihadista. Para os EUA, seria a demonstração de que a diplomacia pode encerrar um ciclo de violência e abrir espaço a novas negociações.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma