Segundo Clauswitz, a guerra é a continuação da diplomacia por outros meios, e não é um fim em si mesma, não se pretendendo com ela a exterminação do inimigo, mas sim a obtenção duma vantagem nítida sobre o adversário, para voltar à diplomacia, e renegociar-se em superioridade.
Não vislumbro nenhuma vantagem para a Rússia, com o reconhecimento de dois estados independentes na região do Donbass, seguidos de uma invasão dos mesmos com Forças Armadas, camufladas de forças de imposição da paz, senão alargarem pelo menos os territórios das zonas, nessa região já ocupadas, ou seja, senão conquistarem as cidades e os portos de acesso ao mar de Ozof, e senão ligarem efetivamente a Crimeia a esse território a ocupar.
Nesta eventual conquista, destes objetivos limitados, que supra-descrevi, há que contar com a oposição das Forças Armadas Ucranianas, que foram armadas e treinadas pelos EUA, que têm no território vários conselheiros militares, e tropas de operações especiais, e pela própria NATO, onde têm o estatuto de partners, desde 2014, pelo que duvido que essa intervenção seja um passeio dos alegres.
Uma eventual invasão total da Ucrânia por parte da Rússia, parece-me mais improvável, pois esta teria também uma oposição armada forte, por parte das Forças Armadas Ucranianas, precisando a Rússia de ter supremacia aérea e um potencial terrestre, de pelo menos de três a atacar para um a defender, potencial relativo de combate que neste momento a Rússia, não parece dispor, sem utilizar armas nucleares táticas, que o compensem, algo que Putin certamente não utilizará com medo de represálias por parte do Ocidente.
Não parecendo impossível essa conquista total do território, por parte da federação Russa, as baixas seriam elevadas, e teriam de contar sempre com uma resistência armada ucraniana, ou seja, a Rússia, poucas vantagens, em minha opinião, teria dessa invasão, pois teria em caso de êxito de contar sempre com uma resistência ucraniana armada e organizada, como já tiveram no Afeganistão.
De realçar ainda, que as relações estratégicas existem sempre que há relações de poder entre adversários, o que nos relega para a ideia que não há nunca, relações diplomáticas puras, porque entre estados ou entre estes e organizações internacionais, como é o caso em apreço, em que os EUA, a NATO e a UE apoiam, embora não militarmente, a Ucrânia neste conflito contra a Rússia, há sempre relações estratégicas de poder económicas, sobre a forma de sanções, que obrigarão Putin a pensar bem antes de concretizar alguma invasão, mesmo que limitada à região de Donbass, pois seriam poucas, ou nenhumas, as vantagens que da mesma teria.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
Adicionar comentário