Os novos conceitos com que os políticos e a comunicação social nos abordam diariamente, quando se referem à arte da guerra e da estratégia, não são mais que novas formas ou novas roupagens para os apresentar.
O conceito de paz justa que Zelensky propala, não é mais que o revisitar do conceito de guerra justa, que tem sido, ao longo dos tempos reformulado, desde a Idade Média, quando Santo Agostinho, inicialmente o quando se começou a discutir na Europa, se era moralmente aceitável, do ponto de vista exclusivo da moral e da religião, adotarem-se novos sistemas de armas mais letais, e lançados a grande distância, tendo sido o aparecimento da besta, que espoletou esta questão.
Este conceito que era um conceito exclusivamente moral, com a separação do poder teocrático do temporal, teve de ser revisto, reconceptualizado, tendo a moral dado lugar ao desenvolvimento da ética, que paulatinamente tomou o lugar da moral, e teve que encontrar novos fundamentos para desenvolver os seus códigos de conduta, os seus códigos deontológicos, que deram origem a regulamentações nacionais e internacionais, ou seja, foram fontes de direito, que estão na base da formulação dos direitos humanos, do direito humanitário da guerra, do direito de defesa perante um ataque externo à soberania dum estado e à consequente inviolabilidade das suas fronteiras.
É com base nestes últimos, que Zelensky e o Ocidente justificam que seja firmado no conflito da Ucrânia uma paz justa, uma paz que implica que a Rússia saia das fronteiras da Ucrânia, porque a invasão que fez do território Ucraniano foi ilegal, ou seja, que a guerra não foi justa e que é ilegal.
A paz justa é um conceito derivado do conceito da guerra justa, do “jus bellun”, nada de novo uma vez que os conceitos de paz e de guerra estão intimamente ligados, e no seu limite a paz é a ausência de guerra e vice-versa, embora saibamos que atualmente há várias matizes de definições de guerra e de paz.
No mesmo sentido o aparente novo conceito de Paz pela Força, que parece ser da preferência de Trump, não é mais nem menos, que o conceito de dissuasão, conceito já escalpelizado em várias dimensões, que basicamente foi adotado a partir dum antigo ditado romano, por Augusto Cesar Imperador Romano, para formular o seu conceito de “Pax Romana”, ditado esse que afirmava, que “se queres a paz, prepara-te para a guerra”.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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