Na minha geração fui dos últimos a casar, tendo-o feito já com trinta e dois anos. Na altura, não
era normal esperar-se tanto tempo para constituir família, ao contrário dos dias de hoje, em
que essa idade é perfeitamente aceitável e comum, pois os estudos, as carreiras e os sonhos
adiam para mais tarde o início da vida dos adultos com mais escolaridade, nas sociedades
ocidentais, ditas mais evoluídas.
Aos trinta anos, começa a ser difícil ter-se paciência para mudar de vida e deixar de se ter a
vida independente que se tinha até à concretização dum eventual casamento, ou qualquer
outro tipo de relação estável, pois na atualidade, não é preciso ter qualquer tipo de laço mais
perene, para satisfazer, nem sequer as necessidades sexuais próprias da idade adulta, o que no
limite leva a que a maioria dos jovens adultos, sejam intolerantes à presença de outrem nas
suas vidas.
De acordo com um ensaio que li recentemente, na Alemanha, os jovens adultos de trinta anos,
quando finalmente começam à procura de parceiro ou parceira, têm dificuldades em
encontrar alguém que tolerem, chegando no extremo a afirmar que, se pudessem casavam
com eles próprios.
Por ter casado tarde percebo perfeitamente essa dificuldade, pois abdicar duma vida
autónoma e satisfatória para constituir família a partir dos trinta anos, não é fácil, pelo que
prevejo que nas sociedades modernas, mais evoluídas e mais competitivas, em que as carreiras
e o sucesso são os objetivos da maioria dos jovens com mais educação e formação, as relações
estáveis entre dois jovens adultos, sejam cada vez mais escassas, facto que, indubitavelmente
terá consequências demográficas muito graves, a médio/longo-prazo.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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