Nos passados dias 17 a 21 de julho realizou-se um conselho europeu e apesar de ter sido alcançado um acordo, foi notória a clivagem entre os vários blocos que constituem a União Europeia a 27 (UE). De uma forma simplista, de um lado da mesa estavam os que reclamam mais apoios, do outro, os contribuintes líquidos que pretendiam impor condições aos apoios fornecidos.
No entanto esta clivagem é resultado do nível de maturidade de cada economia e da exigência da opinião pública de cada país. Os países do Sul, também apelidados de pedintes neste processo, insistiram na obtenção de apoios incondicionais quase numa posição de indemnizados pois as suas economias têm sido as mais afetadas pela forma como as regras da UE restringem as suas práticas. Simultaneamente, os países do Norte, em particular os denominados frugais, pretendiam controlar a adjudicação dos apoios pois acreditam que o futuro passa pela digitalização e sustentabilidade, algo que contradiz o bloco do Sul focado em manter o sistema vigente de economia semelhante à praticada nos finais do século passado.
Agora que foi ultrapassada esta dura etapa de negociação, Portugal pode e deve compreender o ecossistema no qual está inserido. Que oportunidades existem no horizonte e que modelos de economia estão a sobressair com fracas barreiras à entrada.
Neste sentido, destaca-se a economia do carbono que pode ser definida (de forma simplista) como a tentativa de a humanidade mitigar o seu impacto no ambiente através da neutralização carbónica, ou seja, o balanço entre emissões e sequestro de carbono (CO2) será idealmente zero. Esta é uma preocupação que diz muito às gerações futuras e que tem como cabeça de cartaz Greta Thunberg que dinamizou de uma forma incrível parte da sociedade contra as alterações climáticas.
Se a economia do carbono é um dos mais recentes avanços por parte da humanidade, como pode Portugal e em particular Mafra e Ericeira beneficiarem desta nova tendência?
A redução das emissões de carbono, apesar de mediático, tem tido como incentivos base a aplicação de multas e taxas sobre quem polui, e neste caso a maioria de nós não foge a este esquema, por exemplo, quando abastecemos combustível, a taxa de carbono quase que duplicou em 2020 para 5 cêntimos de imposto por litro de gasolina e 5,8 cêntimos no caso do gasóleo. Portanto a dita Reforma da Fiscalidade Verde acaba por ser, para o português, mais um imposto ou taxa. Por outro lado, existem a nível internacional vários Mercados Voluntários de Créditos de Carbono, onde os projetos cuja tecnologia é baseada na tentativa de alcançar a neutralidade carbónica são ressarcidos pela sua contribuição. Portugal, no cômputo geral, tem negligenciado esta oportunidade.
Na minha opinião, o valor coletado através das taxas de carbono a nível nacional deve ser dirigido de imediato para projetos de reflorestação, ou seja, quem cuida e/ou planta floresta no seu terreno público, cooperativo ou particular, deve ser ressarcido pela quantidade de carbono sequestrada, no caso da Tapada de Mafra seria mais uma fonte de receita. Mas podemos ir mais longe, as algas marinhas são outra “tecnologia” que permitiria sequestrar carbono através da criação de quintas marítimas. Num concelho ladeado pelo mar como o nosso, a inclusão desta nova oportunidade de negócio permitiria amplificar ainda mais as sinergias com o mar.
No final, além do financiamento interno com o direcionamento correto dos impostos, esta capacidade de sequestro de carbono seria colocada nos mercados voluntários traduzindo-se numa entrada de divisas via economia sustentável, que tanto foi defendida no conselho europeu pelos frugais.
Portanto, eis a questão: Investir em empresas deficitárias ou promover um futuro diferente e quem sabe melhor?
Fontes:
https://ec.europa.eu/clima/policies/ets_en
https://www.forest-trends.org/wp-content/uploads/2019/04/VCM-Q1-Report-Final.pdf
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