A intervenção do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre Donald Trump foi muito mais do que apenas uma crítica ao atual presidente norte-americano. Ao acusá-lo indiretamente de agir como um ativo russo sublinhando que, até agora, as suas decisões se revelaram mais favoráveis a Putin do que a Moscovo propriamente dita Marcelo deixou implícito que Trump tem sido, simultaneamente, um ativo tóxico para a essência da democracia liberal e para a ordem mundial assente no Direito Internacional.
Na verdade, o professor de Direito voltou a dar uma verdadeira lição de democracia. Em minha opinião, foi um discurso lúcido, inteligente e denso, ótimo para servir de guia a uma geração de futuros políticos, nascida já no século XXI e ainda sem experiência. Mas não se esgota aí: pode e deve ser igualmente importante para a atual liderança do PSD, bem como para toda a oposição democrática.
Este discurso, pela sua clareza e firmeza, deveria ter eco mundial. Num tempo em que a cartilha populista da direita radical se difunde, inspirada por Donald Trump e teorizada por figuras como Steve Bannon, é crucial que se levantem vozes fortes em defesa da democracia liberal. Os ecos vindos dos Estados Unidos são alarmantes: a perseguição de adversários políticos começa a ser uma realidade, e o caso de John Bolton é um exemplo perturbador desta deriva.
Marcelo lembrou que a democracia só se sustenta com separação de poderes, respeito pelas instituições e uma imprensa livre. Ao advertir o PSD para que mantenha a sua matriz no centro-direita e resista às tentações da extrema-direita populista, lançou um recado não apenas nacional, mas universal: a deriva radical não é um risco exclusivo de Portugal, mas uma ameaça global.
Na verdade, Portugal tem aqui a oportunidade de ser mais do que um pequeno país na periferia da Europa: pode afirmar-se como uma voz moral na defesa dos valores da democracia liberal, da ordem internacional baseada no direito e contra as tentações autoritárias que se espalham por várias democracias.
Marcelo não falou apenas para o país: falou para o mundo. Um aviso claro e oportuno num momento em que as democracias se veem cercadas pelos populismos. Evitar que o PSD se confunda com a direita radical é uma exigência da maioria dos seus militantes e simpatizantes. Mas, acima de tudo, é um contributo português para a preservação do equilíbrio democrático global.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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