O sol dourava os campos do Parque Desportivo Municipal de Mafra quando, na tarde de sábado, os primeiros acordes do Mafra Youth Festival ecoaram no ar. O cartaz prometia música ao vivo, energia e celebração. E, de facto, no que toca à qualidade musical, não houve desilusão: as bandas convidadas trouxeram talento, entrega e um profissionalismo digno de um palco maior.
Mas foi precisamente isso que lhes faltou: um palco com público para ouvirem as bandas Naipes, Cyclone F. Blues, Melodraw e Com-Tradições.
O contraste entre o entusiasmo das bandas e a escassa moldura humana que se juntou para as ver foi impossível de ignorar. O som esteve lá. A luz esteve lá. Mas faltou gente.
A culpa não foi da música, ou melhor, não da sua qualidade. O alinhamento foi sólido, mas talvez mais pensado para agradar a ouvidos habituados aos clássicos do rock, aos temas de décadas passadas, do que à pulsação de uma geração que vive ao ritmo de playlists virais e sons efémeros mas contagiantes. Faltou, talvez, essa identificação direta com os gostos da juventude atual. A intenção foi boa, mas o cartaz pecou por desalinhamento, talvez se “misturado” com outras bandas de estilos mais actuais, resultasse numa combinação mais apelaria.
Lourenço Henriques, no passado sábado com o seu projeto “Com-Tradições, referiu esse facto quando afirmou que senão tivermos a capacidade de captar a atenção da juventude, outros o farão, talvez de forma menos “saudável”.
A fraca divulgação também não ajudou. Em tempos de redes sociais e algoritmos, onde tudo o que não se promove desaparece num mar de informação, o festival passou despercebido a muitos dos que poderiam, e deveriam, ter estado presentes.
É pena. Porque aqueles músicos mereciam aplausos, mereciam aplausos mais altos que o eco das estruturas e espaços à volta do recinto e dos amigos que os acompanhavam. E Mafra merecia ver o seu festival juvenil vibrar com a força de uma verdadeira celebração geracional.
Fica a lição. A cultura precisa de palco, sim, mas também de plateia. E para que a juventude abrace um festival como seu, tem de o reconhecer, na música, na comunicação e no espírito. Ontem, a qualidade esteve lá. Que numa próxima edição, esteja também o público.
Fotografias e texto de Carlos Sousa/ KPhoto

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