Ambiente

Hidrogénio Verde, a única solução?

Nas últimas semanas muito se tem falado sobre o projeto de hidrogénio verde que, muito provavelmente, irá arrancar em Sines. Infelizmente a discussão sobre o projeto descambou, e já atingiu o patamar da ofensa pessoal entre membros do governo, oposição e a sociedade civil. Uma vez mais a classe política não percebeu que desta forma não se resolvemproblemas e gera junto da população a mesma apreciação que se faz quando se assiste a uma discussão entre fanáticos de futebol a defender as suas cores.

Aproveitemos então esta crónica para compreender melhor quais as potencialidades deste projeto e de seguida analisar as alternativas.

O projeto do hidrogénio verde surge da necessidade de reduzir a nossa dependência de combustíveis fósseis e em simultâneo reduzir as emissões de carbono.O processo de produção de hidrogénio verde é feito recorrendo à aplicação de um processo chamado de eletrólise no qual ocorre uma reação de oxidação-redução, de forma simples, damos “choques elétricos” na água e extrai-se o hidrogénio. Aqui surge o tema do verde;e para o ser, a produção de energia que alimenta o sistema tem de ser feita recorrendo a energias limpas tais como a eólica ou solar.

Nesta fase surgiu a primeira questão sobre as rendas excessivas; se os fornecedores de eletricidade não iriam beneficiar uma vez mais de uma garantia estatal que lhes permitiria obter, independentemente do sucesso do projeto, lucro. Ora, a oposição deveria estar atenta à forma como esses contratos vão ser feitose exigir que todas as condições sejam tornadas públicas para escrutínio, mas têm-se gladiado mais em questões pessoais e superficiais e menos na contribuição para a melhoria do projeto em si.

Mas então,para que serve o hidrogénio? O hidrogénio pode ser utilizado para queima direta em centrais de produção de energia, adicionadoa combustíveis que colocamos no nosso automóvelou ainda utilizado em células de combustível, uma forma futurista dos automóveis elétricos (fuel cell electric vehicle). E é aqui, que a discussão deveria ter o seu foco, pois não existe garantia que os sistemas a jusante do projeto de Sines possuam capacidade para absorver o hidrogénio produzido a preços que sustentem a sua viabilidade económica. Assim, a questão é: devemos aproveitar esta oportunidade de financiamento ou rejeitá-la?

Na minha opinião, e com base no que veio a público, está a acontecer um erro bastante simples: “colocar todos os ovos no mesmo cesto”. Ao investir todo o capital num só projeto, o número de beneficiados é reduzido e existe sempre a possibilidade do futuro não passar pelo hidrogénio. Deste modo, Portugal deveria manter este investimento, mas reduzir a sua participação no capital de risco, o que tem de implicar obrigatoriamente uma menor exposição do contribuinte. E em simultâneo,promover investimento em tecnologias verdes com provas dadas, como por exemplo o biogás.

O Biogás promoveria o desenvolvimento local, com várias pequenas centrais partilhadas onde produtores de biomassa, estrume ou resíduos urbanos poderiam depositar os seus resíduos e obter uma gratificação, aumentando uma vez mais um elemento extra de financiamento da sua atividade. O biogás pode ser utilizado comocombustível ou para produção de eletricidade, tendo como produto secundário fertilizante. Esta tecnologia já está estabelecida,existe mercado e aumenta o número de beneficiários ao contrário do projeto de hidrogénio verde que possui muitas incógnitas.

Em jeito de conclusão, o país padece de argumentações fundamentadas o que cria opacidade nas decisões e quem contra-argumenta muitas vezes não tem as capacidades necessárias para o fazer.

Já imaginaram, sempre que passamos na A21 o mau cheiro fosse substituído pela certeza de que a Tratolixo estaria a produzir energia e/ou combustível para os nossos veículos? Para finalizar, a proposta de valor para o projeto de Sines daria para construir mais de 100 unidades de biogás por este país fora…

Jorge Antunes

Acerca do autor

Jorge Antunes

Jorge Antunes é atualmente aluno de doutoramento em Gestão de Informação da NOVA Information Management School (NOVA IMS). É licenciado e mestre em Engenharia Química e Bioquímica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA, seguido de um mestrado em Gestão de Informação com especialização em Gestão de sistemas de Tecnologias de Informação pela NOVA IMS. Os seus interesses científicos têm-se focado na implementação de modelos preditivos e descritos na área dos sistemas de informação geográficos. Do ponto de vista profissional o seu percurso tem sido pautado pela gestão de informação através da elaboração de projectos de Business Intelligence mas também de técnicas de Data Mining. Ainda no decorrer da sua atividade profissional foi gestor de projectos em particular na implementação de sistemas de CRM para contact center.

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