Os militares israelitas não querem continuar a guerra nem ocupar Gaza. Aparentemente, estão a apelar de forma discreta, mas determinada a uma intervenção externa, nomeadamente a Donald Trump, para que trave, enquanto é tempo, a escalada do conflito. O Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF) e todos os seus antecessores vivos manifestaram já a sua oposição à continuação da guerra nos moldes atuais. Em meu entender, resta-lhes apenas um caminho digno: desobedecer a ordens que violam a ética militar e o Direito Internacional Humanitário e, na sequência desse gesto, depor o governo e convocar eleições democráticas. Veremos o que se vai passar. Estou curioso como todos os que olham para este momento com responsabilidade histórica.
Chegados a este ponto, impõe-se uma reflexão sobre o dever da obediência versus o dever da consciência. Em qualquer democracia, as Forças Armadas devem obediência ao poder civil legítimo. No entanto, esse dever não é absoluto. Quando as ordens dadas são manifestamente ilegais, contrárias aos princípios do Direito Internacional Humanitário ou atentam contra os direitos fundamentais das populações civis, impõe-se o dever de desobediência. Neste caso concreto, esse dever de consciência sobrepõe-se claramente ao dever de obediência. Caso contrário, os próprios militares israelitas arriscam-se a sentar-se no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional, lado a lado com os líderes do Hamas. A história, e a justiça, não fazem distinções de conveniência quando o sangue dos inocentes corre impunemente.
O tempo da hesitação passou. A hora da consciência chegou.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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