Como já é por demais sabido, Israel tem usado a fome e a distribuição de ajuda alimentar à população palestiniana de Gaza como forma de controlo e opressão. Segundo relatos agora tornados públicos por soldados israelitas a um jornal do próprio país, há situações em que a entrega de comida é usada como isco para treinar o tiro com armas automáticas sobre civis indefesos, esfomeados e sedentos.
Este comportamento, além de profundamente desumano, configura um crime de guerra. Trata-se de mais uma prova dos abusos sistemáticos cometidos pelas Forças de Defesa de Israel contra civis palestinianos, que deverão, em tempo oportuno, ser julgados pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) das Nações Unidas. A gravidade das provas reunidas poderá vir a justificar a acusação formal de genocídio, limpeza étnica e crimes de guerra.
Infelizmente, a única cadeia televisiva que tem conseguido captar e transmitir grande parte do que se passa em Gaza é a Al Jazeera, sediada no Qatar. A escassez de outras imagens no terreno leva o governo israelita a desvalorizar os registos difundidos, acusando frequentemente a estação de manipulação. É possível que, em alguns casos isolados, haja enquadramentos ou edições discutíveis. No entanto, a quantidade, consistência e continuidade dos relatos e imagens tornam insustentável a tese de uma manipulação generalizada. A tragédia é real, e o massacre contra uma população exausta e cercada está à vista.
Convém lembrar que tanto os palestinianos quanto os israelitas são povos semitas. A tentativa de esconder esta verdade e manipular a opinião pública internacional recorre, muitas vezes, à narrativa de que qualquer crítica a Israel é automaticamente anti-semita. Este argumento procura mobilizar a simpatia dos países ocidentais, em particular os que se envergonham das perseguições sofridas pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, tal retórica é cada vez mais difícil de sustentar, pois o que se vê no terreno é um espelho distorcido daquilo que o próprio povo judeu sofreu no passado.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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