Geral Opinião

França em Crise: Entre a Atomização Política e o Perigo Económico

A França atravessa uma grave crise política e económica, consequência de um défice excessivo. A Comissão Europeia tem mostrado reticência em obrigar o país a cumprir rigorosamente as regras orçamentais que a própria estabeleceu, provavelmente devido ao peso simbólico e estratégico da França como uma das grandes potências europeias, como dizem os franceses, “la France, c’est la France”.

O erro de Emmanuel Macron ao convocar eleições legislativas para clarificar a situação política acabou por complicar ainda mais a vida do país. Em vez de assegurar uma maioria capaz de governar e implementar reformas estruturais, o resultado foi a atomização do voto, sem qualquer maioria absoluta. Esta situação inviabiliza, pelo menos no curto prazo, a adoção de medidas necessárias para garantir a sustentabilidade das finanças públicas e evitar problemas sérios de dívida.

Neste contexto, a extrema-direita propõe soluções perigosas, como a redução da contribuição da França para a União Europeia ou a expulsão de imigrantes, incluindo a retenção das suas contribuições para a segurança social. Estas ideias, além de ideologicamente erradas, poderiam fragilizar gravemente o país: a agricultura francesa, altamente dependente de trabalhadores e protegida por subsídios europeus, correria risco de colapso, e a expulsão de trabalhadores estrangeiros ou a retirada dos seus direitos comprometeria significativamente o aparelho produtivo.

É também momento de refletir sobre medidas inovadoras de financiamento europeu. A tributação das grandes empresas tecnológicas americanas, que utilizam o espaço cibernético europeu sem encargos significativos, poderia gerar receitas essenciais. Um imposto europeu deste tipo ajudaria a UE a fazer face a despesas inevitáveis, incluindo o reforço da defesa face às ameaças externas vindas do Leste, e contribuiria para uma repartição mais justa dos encargos económicos.

Em suma, a França enfrenta não apenas uma crise de governação, mas também um teste à sua capacidade de manter a estabilidade económica dentro de um contexto europeu complexo. As soluções fáceis ou ideologicamente extremistas são perigosas; a única saída sustentável passa por reformas estruturais, responsabilidade fiscal e cooperação europeia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma