Geral Opinião

Europa na encruzilhada entre Israel e o Irão

O Golfo de Ormuz vai ser fechado pelo Irão, que assim utiliza a sua posição geoestratégica como resposta ao ataque dos EUA com os B2 ao seu complexo nuclear. Trata-se de uma ação que afetará inevitavelmente a economia global, especialmente o fornecimento de petróleo e os fluxos comerciais que atravessam uma das principais rotas marítimas do mundo.

Estamos perante um momento de redefinição dos grandes blocos geopolíticos. Este ataque pode bem ser o catalisador dessa transformação. A China e a Rússia — sobretudo a China — irão aproveitar o conflito para, de forma indireta, desgastar os Estados Unidos e Israel. Como? Muito possivelmente através do fornecimento de armamento ao Irão, via Paquistão ou Afeganistão, tal como os aliados têm feito com a Ucrânia. São as chamadas guerras por procuração, onde ninguém declara guerra, mas todos combatem.

Neste cenário, a Europa vê-se novamente confrontada com uma escolha difícil. Terá de optar entre acompanhar o Bloco Aliado, possivelmente liderado por Donald Trump — um verdadeiro troublemaker, dada a sua errática política externa — ou tentar manter uma autonomia estratégica que tem sido mais desejada do que exercida. A lição do Afeganistão devia estar bem presente: entrar numa guerra por arrasto, sem convicção nem visão estratégica, apenas conduz ao desgaste.

A União Europeia pode — e deve — neste momento ser o interlocutor privilegiado para alcançar a paz. Está numa posição relativamente equilibrada e tem, em teoria, capital diplomático para dialogar com todas as partes. No entanto, o seu papel dentro da NATO e a ausência de uma verdadeira autonomia estratégica limitam a sua ação. Não pode falar a uma só voz, nem agir com a agilidade e firmeza necessárias.

Por isso mesmo, é urgente que a UE se afirme como um agente de paz e não como um peão numa guerra global que outros desenham. Deve propor, no imediato, a convocação de uma conferência internacional sob égide das Nações Unidas, onde possa servir de ponte entre os interesses ocidentais e os do eixo sino-russo. Só com iniciativa e coragem poderá deixar de ser um mero seguidor e passar a ser um verdadeiro protagonista.

Nuno Pereira da Silva

Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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