Putin, depois da destruição por sabotagem dos gasodutos do North Stream I e II, que forneciam gás à Europa, a maior fonte de receitas russas, tentou, na reunião tida ontem no Cazaquistão, desesperadamente arranjar outra alternativa através da Turquia de Erdoğan, que tem mantido uma atitude dúbia em relação a todo o conflito ucraniano, do qual está a colher enormes benefícios para o seu país.
Erdoğan, qual peixe de águas profundas, fez-se desentendido e na conversa que teve com Putin, desconversou diplomaticamente, tendo preferido realçar o papel da Turquia como mediadora do acordo que permitiu que os ucranianos pudessem exportar os seus cereais a partir do mar negro, pois sabe que a construção de um novo gasoduto entre a Rússia e a Turquia, no atual momento seria prejudicial para a sua estratégia e para os interesses do seu pais, por antever uma reação muito negativa por parte do Ocidente.
Esta semana, numa reunião internacional, anterior à do Cazaquistão, Putin num discurso que proferiu em Moscovo, referiu hipocritamente que a Rússia tem capacidade de fornecer gás ao Ocidente, bem como outras “commodities“, mas que o Ocidente e em especial a União Europeia não queriam, tentando apagar que usou a energia como arma contra o mesmo, pois rogou-se no direito de não assumir os contratos que haviam sido assinados entre ambos, interrompendo o fornecimento desta “commodity” quando queria, tendo o gás passado a ser um elemento fulcral da guerra híbrida entre o Ocidente e a Rússia, guerra essa que extravasa e muito as fronteiras da Ucrânia.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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