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ENTREVISTA COM GARRETT MCNAMARA

ENTREVISTA COM GARRETT MCNAMARA: A INCLUSÃO DA NAZARÉ NA BIG WAVE TOUR DA WORLD SURF LEAGUE

A EuroNews sente-se afortunada pois conseguiu que o Garrett McNamara, apesar da sua agenda ocupada, se sentasse connosco para discutir o seu trabalho duro e dedicação inabalável que resultou na adição da Nazaré, Portugal, como uma das 6 etapas que passarão a constar do calendário do World Tour da World Surf League. Segue-se a entrevista que teve lugar emBerlim, Alemanha, antes da sua aparição como convidado especial do Laureus World Sport Awards. Passados 6 anos a surfar ondas grandes na Nazaré, finalmente a World Surf League reconheceu o potencial da Nazaré como um local de ondas grandes, incluindo-a como um dos 6 locais no calendário deste ano.

Você deve estar em êxtase! Qual foi sua reacção inicial?

Eu tenho que dizer que quase me senti aliviado, como se pudesse respirar um pouco mais facilmente agora. Depois de dedicar os últimos 6 anos da minha vida a mostrar a Nazaré ao mundo, é uma enorme honra ter a Nazaré finalmente reconhecida pela comunidade do surf. É fácil mostrar uma imagem ou vídeo de uma onda gigante a todos os que não praticam surf, pois estes ficam automaticamente maravilhados e convencidos de que se trata da maior onda do mundo. Nós adoramos compartilhar a magia da Nazaré com o mundo.

Durante quatro anos seguidos você levou o surf e Portugal a milhões de lares em todo o mundo, não só na costa, mas em terra também. A Nazaré foi apresentada na CNN, BBC e em inúmeros meios de comunicação. Nenhum outro evento de surf se aproxima desta exposição mediática. Como foi isto possível?

Foi tudo graças à minha esposa Nicole, a quem chamam a melhor máquina de relações públicas do ramo. É incrível o que uma pequena e bela professora da Flórida pode fazer. Eu acredito que é porque ela não tem nada a não ser boas intenções, tendo sempre em mente os jovens, a procura de um mundo melhor e eu, claro!! Ela tem um coração do tamanho do mundo!!!

Eu aprendi que os surfistas são um osso duro de roer, eles são muito mais cínicos e mais difíceis de convencer. Como conseguiu levá-los a acreditar na Nazaré?

Foram necessários 6 anos de completa dedicação, sabendo que um dia eles iriam ver o que eu vi no primeiro dia, quando me aproximei do farol (Forte de S M. Arcanjo). Finalmente eles viram a luz, a magia, o mistério e as ondas incríveis que fazem a Nazaré. Espere até que eles conheçam as pessoas e experimentem a comida, será impossível para a comunidade do surf não se paixonar pela Nazaré e por Portugal, da mesma forma que eu me apaixonei.

Este é um evento de paddle, o que significa que eles não usam jet skis para apanhar as ondas. É verdade que você tem surfado sozinho na Nazaré desde 2010, ou seja também em paddle?

Hahah… sim, sei que parece loucura, mas quando cheguei em 2010 ninguém surfava na Nazaré nos dias gigantes. Ninguém visitava sequer o Farol da Nazaré. Nos primeiros dois anos que vivi na Nazaré, o farol parecia um edifício fantasma, onde ninguém jamais ia. É um dos melhores lugares para ver e sentir o poder das ondas gigantes. Eu delineei como a minha missão a abertura do farol ao público, apesar de todos na Câmara Municipal e outras instituições públicas afirmarem que era impossível.

Tudo é possível e depois de muita insistência minha, de um sem número de reuniões e muito trabalho árduo, finalmente fomos capazes de abrir o farol para o mundo desfrutar. Em dias mais pequenos os bodyboarders locais estavam na água e faziam-me companhia.

Nos dias maiores eu remava desde a vila, a toda a volta do penhasco para a Praia do Norte, apanhava uma onda e depois tinha que fazer tudo de novo, porque não havia outra maneira de voltar a entrar na água e e eu era a única alma na água e no farol. Eu fui o único durante meses a fio. Depois, o Andrew Cotton e o Hugo Vau apareciam de vez em quando e surfávamos juntos.

Levávamos o jet ski e revezávamo-nos a surfar e a colocar os outros nas ondas. Por vezes eu adorava ser o único na água, mas tornava-se bastante solitário e eu sonhava com o dia em que estaria na Nazaré a surfar com todos os meus amigos. Agora, finalmente, esse dia chegou.

 

Nos últimos anos você não esteve na Big Wave World Surf League Tour. Qual será o seu papel na próxima temporada?

Nos últimos anos dediquei-me exclusivamente à Nazaré, pelo que a WSL não me colocou em qualquer um dos outros eventos em todo o mundo, porque eu não dediquei o meu “tempo” a outros locais. Eu estive dedicado à Mamã Nazaré. O meu plano é estar preparado para participar no evento da Nazaré, no Inverno, mas se por algum motivo eu não estiver pronto, estou certo de que eles me oferecerão um wildcard de lesionado no próximo ano. De qualquer forma eu estarei presente para apoiar como puder, garantindo que todos aproveitam da melhor forma e em segurança, a Nazaré, que se tornou a minha segunda casa e que eu tanto amo e estimo.

 

Você tem uma grande e bonita família para cuidar. Como tem sido possível para você dedicar tanto do seu tempo para colocar Nazaré no mapa?

Sinceramente, nada disto teria sido possível sem o apoio do anterior Presidente da Câmara, Jorge Barroso, que acreditou no projeto apresentado pela equipa North Canyon. E também com o sempre presente apoio local prestado pelo Restaurante A Celeste e pelo Hotel Miramar. Eles fizeram dessa primeira exploração em 2010 uma realidade. E, claro, eu não poderia ter dedicado tanto do meu tempo sem o apoio dos meus patrocinadores Buondi Café, Mercedes-Benz, Thule, DonJoy e Body Glove.

Garrett McNamara estará de volta a Portugal para receber o Prémio Atlético Mare nos Prémios Excellence Mare, no Casino da Figueira da Foz, no dia 30 de abril.

Um trabalho da EuroNews