Qualquer analista de política internacional utiliza ferramentas de análise científicas, que se baseiam sobretudo nas teorias políticas de Relações Internacionais, nas da estratégia, e nas de Direito Internacional Público. . Para além destas a experiência pessoal do analista e as suas convicções, não são nunca desprezíveis, pois não é possível a nenhum analista pô-las de lado.
O facto de ser, militar, ser Católico, Europeísta, de ter trabalhado cerca de dez anos, num grupo de trabalho do Conselho da União Europeia, de ter liderado o Grupo de Trabalho da EUROFOR, de ter estado em Missões NATO, e de cooperação na África Lusófona, são sempre factores presentes nas análises que faço, e isso é que as eventualmente enriquece e diferencia das de um político, ou das de um académico.
Esta pequena introdução é importante, pois quando, num programa de Televisão, ontem à noite, oiço a deputada do Bloco de Esquerda, Ana Drago, defender como uma das soluções para vencer a crise económica que se perfila, a saída da União Europeia e do Euro, advogando que Portugal ao não poder emitir moeda está privado de uma ferramenta importante para poder fazer face ao Tsunami pós-pandemia, fiquei estarrecido.
Recordemos que Portugal, nunca, na sua história, conseguiu sobreviver como país, sem alianças, quer à Potência Marítima, nalguns casos, quer à potência Continental, noutros, tendo infelizmente, muitas vezes sido um protectorado do Reino Unido, por muito que isso nos custe a admitir pelo que por maioria de razão, na atual conjuntura internacional, seria impossível ser completamente independente.
Portugal precisa de estar na UE, porque nela é um Estado-membro de pleno direito, com participação ativa nas decisões do Conselho, com um número de votos de acordo com a sua dimensão territorial e população, ao contrário da Noruega, que por não ser membro da UE, para poder usufruir do mercado comum e assim poder transaccionar os seus produtos, acata obrigatoriamente todas as decisões dum organismo externo, sem sequer poder ser ouvida. O Reino Unido, possivelmente, irá ficar numa posição semelhante, para poder aceder ao mercado comum.
Depois da Convenção de Brentonwood, a emissão de dinheiro por parte dos Bancos centrais, deixou de estar ligada diretamente ao valor das reservas de ouro dos países, passando a entrar também outros factores, não tão tangíveis, na equação do valor relativo da moeda, em que as reservas em divisas, outras commodities, as economias dos países e a confiança são determinantes.
Voltar ao escudo, e emitir moeda para fazer face à crise, não me parece viável, pois, quem esteve como eu, quer em Angola, quer em São Tomé e Príncipe, sabe que os quanzas e as dobras não têm qualquer valor fora dos territórios desses países, e que para qualquer transação mesmo interna é necessário dispôr de moedas fortes de preferência o Dólar.
O Estado português teria de arranjar forma de pagar a sua dívida ao exterior, pois o escudo dificilmente teria aceitação, Internacional ou mesmo tendo-a o seu valor seria tão baixo, que seria impossível pagar a dívida. As dívidas dos empréstimos de habitação dos portugueses, contraídas em euros, após conversão para um escudo depreciado, atingiriam valores impagáveis.
Seria o Caos total.
Nuno Pereira da Silva Coronel de Infantaria na Reserva
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